E daí?
Não sei.
Apenas não havia concentrado em ver
Não havia me atentado desse sentido
Questionavelmente ouvia
Certamente sentia calor.
Mas quem é que imaginaria?
A ler um texto anarquista, ver
Tão carnosamente seu lábio...
Encheu-se meu peito de seu aroma rubro...
Quem esperaria?
Logo que choveu
E se levantou a terra molhada a chamado de meu olfato
E, aí, sua forma se fez colorida
Por entre as letras rebeldes.
Eu precisava.
Assim como esse pronome precisou iniciar o último verso,
Eu precisei iniciar uma poesia com seu nome.
Amo o seu silêncio
De como me permite a lei,
Amo o seu silêncio
E furto todos os seus sorrisos gaguejados
Sorrisos...
Na distensão da boca
Arquejo lembranças aquecidas de seu beijo
De seus olhos que se fechavam para mim
Ameaçando destituir-me de seus verdes
Forçando-me saber seus loiros
Confundindo minha mão rude
A caçar seus dédalos dedos avermelhados...
E no novo sangue que passa a correr minha velha veia,
O fogo que me cedia nos encontros
Queima agora meu peito nu
Queima minha cobiça mórbida por sua imagem
Da ávida imagem de seu corpo
Queima o seu silêncio que amo
E que agora geme
Queima a vontade de sua pele fêmea
Da derme branca
Dos pêlos arrepiados
Queima-me por inteiro e cada vez mais rápido
Como se eu tocasse seu rosto a primeira vez
Ou como se eu tocasse um violino
Na mais eufórica e suada canção de Paganini.
E no arrebentar das cordas
Procurei mais uma vez meu livro
Procurei o que me interrompera
Procurei sua silhueta nas entrelinhas
Procurei esquecer a ousadia repentina
Lembrei-me do quão fútil é a poesia amadora
E, funebremente,
Passei a correr novamente a vista desatenta
Pelas letras ácratas e utópicas
Do sangue velho
Do velho Bakunin.
Pensava eu que pudesse voar mais livremente
Se desengatasse as asas.
Ainda não...