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Cronicas-->O circo da Luísa Fernanda -- 09/10/2008 - 11:16 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O circo da Luísa Fernanda

Fernando Zocca

Luísa Fernanda bastante entristecida com os fatos que presenciava na agência bancária do Brafresco, onde trabalhava, numa tarde de terça-feira em que o chefe lhe chamou a atenção por não estar apresentando o rendimento básico necessário, pensou em deixar aquilo tudo e dedicar-se a um circo.
Naquela situação, ela aceitava qualquer coisa: até ser palhaço de circo de pulgas. Seu desejo era mesmo o de distanciar-se daquela sina inglória de carimbadora burocrática desditosa.
Então, à noite e já em casa, depois de ter conversado, pelo telefone com uma outra contadora do banco, sobre um processo judicial fictício que criariam, para justificarem também um pseudo estresse, Luisa Fernanda isolou-se na área da piscina, cujas águas verdes atraíam mosquitos da dengue e, acionando o seu teclado engordurado, amarelecido pela omissão na limpeza, pós-se a dedilhar uma composição que fizera em homenagem à chegada do Corinthians à primeira divisão.
O poodle que dormia na soleira da porta da cozinha, e que tinha os pêlos sujos, embaraçados pelos maus tratos, quando ouviu os primeiros acordes, farejou também a fumaça do cigarro recém-aceso. O animal, porém saiu em disparada indo aninhar-se no sofá da sala, depois de ser atingido por um copo de pinga, que a musicómana deixara-lhe cair, sem querer, sobre seu focinho, indo espatifar-se no solo.
Luísa aguçou os ouvidos para saber se Célio Justinho, que estava na sala fazendo palavras cruzadas, ouvira o estardalhaço que fizera a quebra do objeto. Célio era muito rígido, não gostava de nada fora do lugar e, se notasse aquela pinga espalhada pelo chão, no meio dos cacos de vidro, certamente reclamaria.
Mas não havendo nenhum indício de que o prejuízo que Luíza acabara de causar, tivesse chegado ao conhecimento da tal "autoridade", descontraiu-se, buscando naquela garrafa semicheia, mais uma dose da pinga amarela.
Enquanto Luisa Fernanda, a mocréia de cabelos curtos, ensaiava os primeiros acordes, imaginava como poderia apoderar-se da senha do e-mail do seu chefe de seção. O desejo que ela tinha de danar aquele energúmeno era tanto, que Luisa pensara em usar o CIC e RG da chefia, acessar o seu e-mail e depois clicando em "esqueci minha senha" preparar-se para recebê-la em outro e-mail previamente criado.
A intenção da carimbadora burocrática era a de enviar e-mails passando-se pelo superior e assim comprometê-lo em momentos decisivos, tais como das eleições, por exemplo.
De repente Luísa percebeu que a poodle voltava para o quintal trazendo nos pêlos um pó branco que espalhava pelo ar, ao mexer-se. Era um inseticida que o veterinário Tendes Trame, na segunda-feira, no interior da agropecuária do Henrique, receitara ao Célio, depois que este lhe dissera estar sua cadela infestada por pulgas.
O veneno era carbamato, uretana, e ao disseminar-se no ar, pela área da piscina, era respirado por Luísa, que reagia com fortes dores de cabeça, perdendo assim o interesse em homenagear o timão.
A decepção de Luísa foi tão grande, que se ela cometesse o desatino de ministrar pequenas doses diárias da substància àquele mau caráter, sentir-se-ia muito feliz, mesmo se o delegado de polícia lhe desse voz de prisão por tentativa de homicídio.
Luísa Fernanda sofria de um mal crónico, muito comum: era a mediocridade. Por ser ordinária, vulgar, não conseguia fazer nada mais que o mínimo para proporcionar lucro ao banco que lhe pagava os salários.
Na verdade Luísa Fernanda, a carimbadora burocrática, queria mesmo era passar o resto da sua vida vã na borda da piscina, tomando caipirinha e ouvindo moda de viola.
Que os deuses lhe ouvissem as preces.

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