Impulsionado por uma religiosidade quase carnal aproxima-se da porta. Estava aberta. Adentrou. Seus olhos tiveram que adaptar-se àquela semi-escuridão. Tudo parecia fluir confusamente. O líquido da inconsciência vem à tona misturando-se com o da consciência. Sente-se um menino de cabelos brancos. Anda com passos lentos pela nave da igreja olhando tudo com uma observação meticulosa, quase doentia. As mesmas estátuas de santos, as flores, velas, castiçais e a toalha rendada do altar. Na meninice havia enfiado o dedo no nariz de São José e passado a mão no decote de Maria Madalena. Era a libido que despertava como besta solta no pasto.
O homem olha para a esquerda e um arrepio lhe percorre o corpo: lá estava ela com o mesmo manto de cetim roxo, agora já desbotado. Os olhos de vidro e os cabelos imitando os reais davam-lhe um aspecto macabro. Aproxima-se e sente-se menino. O mesmo menino que experimentou a imensa decepção de encontrar uma armação horrorosa ao levantar, cheio de curiosidade, o vestido de Nossa Senhora das Dores para ver o que havia por debaixo.