Muito além de Bagdá
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Olhando as imagens do pós-guerra e os sorrisos de satisfação e vitória dos senhores Bush e Blair percebemos um país como terra de ninguém. A desordem e a bagunça tomaram conta da nação. A Guerra acabou e há um caos no Iraque. O previsível aconteceu, ou alguém imaginava o contrário? Bagdá não é de ninguém, ou melhor, queiramos ou não, a bandeira americana tremula no golfo. Os EUA venceram e W. Bush é o “herói e libertador” do povo iraquiano.
O saldo desse insano conflito é um país aos escombros, invadido por uma potência mundial e vilipendiado em sua soberania. Bagdá com seus 5 milhões de habitantes foi bombardeada incessantemente. As crianças, os idosos e os civis foram as maiores vítimas dessa guerra. São centenas de pessoas feridas, mutiladas e mortas. E essa conta é impagável! Ou será que, numa guerra quase-santa, a vida tem um preço? Como contermos a emoção diante da foto do garoto Ali Ismaeel Abbas de 12 anos que perdeu os braços durante uma chuva de bombas sobre Bagdá? Como contermos a indignação ao vermos as fotos de iraquianos insepultos nas ruas de Bagdá?
A guerra terminou. Entretanto, algumas questões se fazem necessárias.
Um dos pretextos da guerra era o uso de armas químicas, de destruição em massa, por Saddam Hussein. Conforme os relatos dos peritos da ONU, não havia arma química no Iraque. Como constatamos, não foram utilizadas no conflito.
Onde estão as armas químicas do Saddam?
Uma ditadura pressupõe um grande exército. Como vimos, o exército do Iraque é risível.
Cadê o poderoso exército de Saddam?
Como uma cidade que é três vezes maior que Porto Alegre, apenas uma centena de pessoas aplaude o exército anglo-americano? Confesso, tenho dúvidas sobre o real apoio do povo iraquiano ao “exército de salvação” americano.
Onde estavam, ou estão, os habitantes de Bagdá?
Ficou mais do que evidente que os interesses da guerra eram puramente bélicos, econômicos e estratégicos. Desovaram armamentos, irão reconstruir o que destruíram, estão de posse da segunda reserva de petróleo do mundo e da maior reserva de água doce do golfo. Esses os reais motivos dessa guerra. Sem falar na demonstração de poder e da doutrina vigente do Sr. Bush nos EEUU.
Qual será o próximo avanço norte-americano no globo? É temeroso afirmar, mas cabe lembrar que o Brasil possui a maior floresta tropical do mundo. Como também, o sul do Brasil, Paraguai e norte da Argentina, estão sobre a maior reserva de água doce do planeta, o Aqüífero Guarani.
E isso é preocupante. Envolve soberania de uma nação. Envolve a paz no mundo. E não sabemos até onde vai a ganância do imperialismo norte-americano comandado por um W texano. Todavia, eles sabem bem mais que nós da importância da Selva Amazônica e do Aqüífero Guarani.
A análise dessa guerra não pode ser prematura, a conjuntura e o movimento internacional dará brevemente algumas respostas. Entretanto, os povos do mundo poderão escolher entre a paz e a convivência pacifica ou, como diz o velho ditado, - peço desculpas pelo trocadilho - ficarem “pra lá de Bagdá”. Porque eles... eles estão muito além de Bagdá.
Cogumelos pretos! Ou rosas orientais?
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