ALARME
As palavras que trouxe da infância,
Águia, égua, igreja, ovos, uvas,
Hoje diluídas entre agrestes rugas
Perderam a cor, o gosto e a fragância.
Mas sinto-as no rasto da distância
E ouço-as no silêncio em vão gemendo
No derradeiro sentido que vou tendo
A caminho do pó sem substância.
Releio-as, tentando a mesma ânsia
Do esforçado menino pra dizê-las,
Ainda que nada em suma absorvesse
E tremo ao lobrigar a importância
Do tempo que esbanjei sem entendê-las,
Interessado no que não tem interesse.
António Torre da Guia |