No decurso dos anos 50, enquanto a minha cabecinha de jovem estouvado não alcançou o funcionamento independente e esteve apenas entregue aos impulsos da minha mão direita, eis as mulheres com quem, sucessivamente, dormi e sonhei em permanência. Cheguei mesmo a rezar por elas para que tudo lhes corresse de vento em popa.

Bem, como reconhecia que ainda não tinha estofo corporal para ousar na realidade tais conquistas e partir em busca da felicidade para a América, entretanto encarnava - sentia-me - duas competentes figuras masculinas da cinematografia, Kirk Douglas e Alain Delon, porque considerava serem estes os estilos adequados e ao nível das três exímias felinas: a gata, a leoa e a pantera.

Palavra, puro-purinho, nunca me ocorreu dormir com as três ao mesmo tempo. Tal possibilidade estava-me a milhares de léguas do raciocínio. Sonhava casar com uma delas, sem que a eleita jamais soubesse do meu estreito pendor pelas outras.

Naqueles belos tempos, presumindo que estava cheio de imperdoáveis pecados na alma, na meia dúzia de confissões religiosas que "obrigatoriamente" fiz, nunca confessei semelhante intimidade aos padres. Podia lá eu trair tão belas mulheres. De resto, nunca se trai quem deveras se ama.

Ao cabo de 50 anos, não acharão porventura as leitoras e os leitores muito bonito, e sobretudo pedagógico, que este texto possa ser acessível a todos os jovenzinhos hodiernos, ajudando-os desde já a libertarem-se, em face dos adultos, dos terríveis arcanos que ainda assolam a humanidade?