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Erotico-->Devassa -- 31/03/2007 - 22:19 (Maria Dalva Junqueira Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O Cheiro Brejeiro
de
Lamparinas

“A tarde balança os ruídos do Sol”,
Apaga todas as lamparinas.”“.
AUGUSTA FARO

L
á em baixo, vindo um marejo de barulho no pilão: tam-tãoããooo... Tam-tãã-ooo...
Um barulho danado de comprido, o tempo todo, sem parar: tam-tão-ããooo...Tam-tão-ããooo...
O tempo... O tempo voa ou então o tempo se arrasta.
O monjolo pilando sem parar.

Tarde os grilos se aquietavam. A casa ficava no escuro. A lua no curral alumiava a meninada, atiçava fogo nas brincadeiras, um bezerrico berrava na cocheira: Méééé... Mééééée-e-e-e-e...
Os meninos, e Caetana domavam a bezerrada na cocheira. O vaqueiro Inácio lá junto, atiçando, animando. Sinhá dona Matilde vinha vindo renovando e repetindo costumeiras ordens:
— Eugênia, atiça o fogo na trempe, bota feijão pra cozinhar. Amanhã tem peão no serviço! Colheita de milho. O seu tempo de princesa acabou, você agora trate de sair de frente desse espelho!
— Sim. Senhora...
— Rafaela, vá cuidar da lida da casa, larga essa revista pornô!
— Sim, senhora dona-do-mundo. Senhora dona da vontade de todo mundo!...
— Você não tem mesmo papa na língua. Nunca vi filha tão respondona e tão malcriada!
— Não facilita comigo que lhe dou uma sova que nunca há de esquecer!
— Pois tente! Não vou mais me abaixar pra suas doidices, sinhá mandona! Tente! Nem tente espancar-me!
A mocinha encarou o olhar frio e ferino da mãe, desafiando-a.
No poleiro, as aves se aninhavam, num galho de goiabeira, perto da porta da cozinha, junto ao cajueiro e a amoreira.
E o tempo foi escorregando...

Rafaela ia alinhavando a colcha de retalhos. Rabiscos de confusas costuras. Desfazia caricaturas da lembrança rascunhando suas memórias.
Ah, as bonecas de pano da avó Jacinta, com bumbum e peitinho!
Os olhos e boca, e os cabelos feitos de linha!... E as bonecas de dona Mariana Nogueira que mais pareciam umas bruxas, de tão desengonçadas. Mas eram tão engraçadas! E divertidas!
E as goiabeiras à beira do chiqueiro!... Ah! As goiabas!... Brancas!... Amarelas!... Vermelhas!... Pensou e a boca encheu d’água, lambeu os beiços. Do lado de lá do corguinho, a tapera da Tia! A querida Tia... E os cheiros de mato! Cheiro brejeiro de lamparina, noites com aroma de ninhos, entrando pelas narinas. Um punhado de cheiro de neblina, misturados com cheiro de chuva fina. Um cheiro de mato e riacho, com gosto de relva molhada. Manhãs com gosto de pitanga e outras frutas do cerrado, maminha-cadela e corriolas. Outros cheiros esparramados no eitão da fazenda lá fincada num ermo de cheiros. Cheiro de lamparinas. Outros vários cheiros. Cheiros de orvalho no vento com sonhos dependurados nos galhos do pensamento. Cheiro de noites com aroma de ninhos.
Um par de cabaças pra nadar no açude. Banhar-se todos nus! Gente pelada, no poço do córrego, nadando no rio transbordando pela enchente, ou passeando a cavalo pelas várzeas desertas...
Ah, saudade viajeira, saudade albatroz gostando de brincar na ilha da fantasia!
Lembrança amoitada cochilando na memória buscando sonhos juntar.







E da lepra alastrando pelo corpo da Mariquinha Fiúza, aquele pavor de moléstia contagiosa...
Suspirou, tendo uma recordação bucólica e, para distrair, sacudiu a cabeça. Um oco de sertão remoto. Pensava.
E a vida foi escorregando... *
O tempo — escreveria muito depois, ao pensar por detrás dos óculos no que pensava aos nove anos — existe como conseqüência do futuro. O futuro é luz, e o passado, por vezes terrível sombra.
Por onde avançava, sua sombra a acompanhava.
As outras lembranças caminhando: as várzeas do rio, a tapera da tia, a querida tia Natália, tinhosa e calada, entre as laçadas de crochê e o novelo no jacá se desfazendo devagar até dar cabo duma rica colcha rendada! Seu caminhar por entre os arvoredos, seus cismares silenciosos, nos vãos das janelas, a dormitar regatos, lendo a solidão dos Ipês. Seu jovem e incansável pai, indo e vindo da lida, ora voltando do campeio do gado, ora chegando da rocinha trazendo a colheita.
Colhia quase de tudo que precisasse: arroz, feijão, milho, mandioca, batata-doce, cará. Cana-de-açúcar, pouquinha. Só não plantava café. Amendoim também colhia, bastante. Banana muita. O arroz era socado no pilão do monjolo. O rego d’água, na bica larga de cimento correndo para a gamela do monjolo que não parava de socar. Depois de socado o arroz era peneirado pelas mocinhas, Rafaela e Eugênia. Caetana, essa não ligava pra lida de casa. O negócio dela era mesmo a lida com o gado no curral ou na larga do campo do Lajeado, uma pescaria nos poços do córrego ou uma largada a cavalo, pelo boqueirão das estradas...
o0o
Tecendo rabiscos de confusas costuras Rafaela ia rabiscando paisagens gotejando tempo. Cinturão de paisagens afogadas inundando o cenário... A velha casa de tijolos sujos, desgastados pela chuva, o vento e o sol cobrindo o telhado. Um pé de flor plantado numa panelinha. Na latada da horta-de-couve, de paus roliços e corridos, coberta de folhas verdes o chuchuzeiro florido, Tigre, o cachorro, cochilava ao calor do mormaço.
Por fim, num quarto pequeno, dormia só a menina. Ressonava leve e serena, em seu soninho quente, de palha.
De manhãzinha, os passarinhos debulhavam no ar a matinal cantoria dos quintais. Um ventinho manso e frio, vindo das bandas do rio, brincava solto nos galhos. O ar ficava todo pintado de folhas, flores, cheiros e notas musicais. Um aroma quente de café subia pela chaminé.
Regando as plantas do jardim que circundava a sala da frente, sob a luz do luar e matutando de mudar o rumo de sua vida rotineira de campesina, a camponesinha rabiscava cenas do futuro. Quando não tardar escurecia. A dona Matilde sentava ao canto da cozinha, tirava sob a luz frouxa de uma lamparina, cuja fumaça enegrecera a parede de comprida fumaça, uma lata cheia de pimenta colhida no quintal, de lenço na cabeça, puxando um tamborete de couro cru, iniciava as tarefas da noite.
Nisso o marido que vinha de dentro da noite, de volta ao campeio do gado, ia entrando devagar, arrastando as esporas, dentro de sua pesada polaina. A calça de couro rustida nos longes pensamentos, o vaqueiro chegando.Matilde levantou o olhar à chegada do seu vaqueiro. Pensativa. Ela entendia de alguma coisa, e falava com voz cansada:
— Anda, meu velho... Come, homem, senão a janta até esfria. O borralho está minguando. Como foi o seu dia hoje? Você demorou.
— É mesmo, mulher. Passei lá pelo sítio dos Fiúzas. Fui propor negócio da fazenda Babilônia. Tive uma oferta pra compra das terras de Furnas. O Marcianinho está apertado, precisando de dinheiro. Ele vai vender a fazenda dele por um preço de ocasião. É pegar ou largar
— Que idéia essa agora meu velho, depois de velhos, mudar? Pelejei tanto com você pra gente sair daqui quando casamos. Não queria deixar a Aguada Rica. E você aqui arraigado a este lugar! Mas agora...
— Mas agora, mulher, tem os Fiúzas e a morféia pra nos atazanar a vida. Acabar com o sossego da gente.Depois que esse homem comprou a fazenda grande do prefeito ali na nossa divisa que não ando tendo mais sossego. Foi uma maçada essa do Luiz Alvim ter de vender a fazenda que foi do Luziano. E logo pra quem?... Essa gente transitando de lá pra cá, invadindo nossos currais pra ir lá naquele terreno deles.
— Lá isso é verdade, meu velho. Todo dia cedo e de tarde essa gente transitando pelos nossos currais pra ir lá pra rocinha deles. Todos leprosos!... O tal Zé Fiúza já foi levado pelo pessoal da Assistência Social. Agora esse Antônio Fiúza nem se vexa. Não sei por que não se cuidam. Mariana, a mulher dele já tá com todos os sintomas... E essa tal de Júlia que não larga das meninas... Agora já deu até pra vir dormir aqui pra prosear com as nossas filhas. Não quero mais saber dessa amizade. É perigoso demais!
— É, mulher, domingo passado tive proseando com sua mãe. Dona Jacinta me aconselhou de mudar logo. Minha sogra tem razão. Tá preocupada com os netos dela.
Tinha de tomar uma decisão e tomara. Era um matuto, mas sensato. Tirou o chapéu, desfez-se das esporas, da polaina e da calça de couro, indo à cozinha. Chegou da lida com apetite pra três pratadas de comida. Foi até o fogão caipira, encheu uma pratada e veio saborear a bóia junto da mulher. Devorou a comida em silêncio Sentou numa banqueta, os cabelos escuros, caídos na testa, calado e triste. Ambos em volta da mesa de madeira tosca, dividindo o silêncio. Depois da janta encostou o charuto de palha no canto da boca.
Passado o apetite, comentou com a mulher:
— Amanhã vou saber a proposta do Fiúza. Ele vai fazer sua oferta.
— Tomara que a gente combine o preço. Dinheiro o danado tem! Só não tem é vergonha na cara pra cuidar da saúde dele e da família inteira que tá doente do sangue. Já estão até ficando deformados, os dedos caindo as unhas.
— Temos precisão de sair daqui Matilde, o quanto antes melhor.
— Cruz credo! Deus nos livre e guarde, Juvenal, é mesmo! Não dá mais pra ficar aqui. Temos de sair logo, tratar de procurar outro canto pra assentar morada, e tirar nossos filhos, longe dessa lepra avassaladora!
Nesse ínterim, Rafaela que vinha do rústico jardim, de dentro da sala ganhou a cozinha e ouviu a prosa dos pais, ficou matutando:
— Tomara que o negócio da venda da fazenda dê certo. Estou cansada desse tédio daqui, dessa gente matuta e ainda por cima leprosa. Carecia de fugir do perigo antes que... Nem era bom pensar, quem dera ainda falar. Uma dorzinha esquisita vinha lá de dentro, roendo tudo por dentro. Seria pesar? Sempre sonhara ir morar num lugar povoado e mais civilizado. Sonhava também com uma casa circundada de bosques e flores, um rio e uma ponte grande e bonita na travessia, nas redondezas de alguma cidade. Ali era somente solidão e trabalho, labuta e abandono. Diversão?!... No fim do dia era tanta canseira que todo mundo dormia e nem sonhava. “Cantar... que cantar? Ninguém lá cantava que eu lembre nesse espinhoso de morro”.
Sinhá Matilde, no seu posto, ali nos seus calcanhares. A ela parecera, desde pequena, que teria de brigar até pelas horas de sono. Era ainda, a mãe quem sempre decidia que roupa vestir, que sapato usar. Se cortava ou não os cabelos... Mais tarde, mocinha já crescida, era a mãe quem decidia tudo, se devia ou não namorar, pois dos rapazes era proibido donzela se aproximar. Nada de intimidade. E nisso tinha o aval do marido, ciumento das filhas que só. Fazia sala quando algum rapaz vinha e se aproximava das donzelas que ele tanto zelava.
O tempo todo, ali grudado. Se algum mal-intencionado vinha suas filhas negacear. Só flerte de longe, sem convercê.
Aos domingos eles vinham. O pai resmungava:
— Já vem os tais, parecem cachorros perdigueiros negaceando a caça. E vigiava a conversa. Nada de mãozinhas dadas. Beijinhos, nem se fala! A moça pensava achar jeito de poder namorar direito. A Eugênia sempre achava jeito pra tudo. Pensando na vida que levava ombreou de novo os badulaques de limpeza, dos terreiros, depois limpar e tirar os sabugos do chiqueirão beira-rego, ombreou vassoura e roldão. Resmungava e, cantarolava enquanto varria as folhas secas do cajueiro, esparramadas no trilheiro e entulhando o rego, debaixo da pinguela entulhos de mais, folhas das laranjeiras e mamoeiros, sei lá quanta fruta havia por lá: uma carreira enfileirada de cinco mangueiras (manga rosa) no fundo do pomar, outro de pé de “coração-de-boi” na beirada do curral, e outro de manga comum na porta da casa do monjolo. Um cajueiro no caminho do rego d’água, alto e majestosa a sua sombra. Uma laranjeira na beira da bica de cimento, outra carreira de pés de laranja na beira da cerca de arame em frente a uma porta da cozinha. A limeira no fundo do quintal, do lado de lá do rego d’água, a limeira!... Ah, a limeira!...
Rafaela esquece! Mas ela não esquecia.
Juvenal passou a mão pelo rosto espantando as evocações intrusas. Havia um sentimento naquilo tudo. Um sinal. E havia muita fé. Dormindo, acordado, sonhando. E agora que o caminho, já gasto, pendendo de trôpego caía sobre eles, que interessavam as cores borradas, estampas cerzidas, pedaços mal costurados dessa infância que se fora?
As nuvens continuaram riscando histórias no ar e ele, em busca de um ideal, de olhos grandes e insistentemente tristes pescava da janela de seu bangalô, pacientemente, dando linha e recolhendo-as num papel branco, com muitos rabiscos e, não raras vezes, lágrimas.
o0o
No final do corredor, ao lado da pontezinha do rego d´água, despontava o vizinho no seu cavalo pedrês. Levantou o chapéu de feltro, coçou a nuca.
— Ô de casa!
— Bom dia Antonho. Se achegue. Vamos apear. Entre pra dentro.
— Bom dia Juvenal. Tive pensando. E foi saltando da sela.
— Entre, abanque-se!
— Quanto você quer pelas terras?
— Quinhentos mil réis. Sem pechincha!
—Pois compro. Negócio fechado!
O vaqueiro matutou: “o jeito agora é arrumar as trouxas” e cair o fora!















Devassa

abusada, trêmula, febril
atada ao seu corpo
gata em teto de zinco quente
me enrrasco ao seu corpo
e nele esfrego essa paixão
ardente e perigosa..

minha boca engole seu beijo
inebiada em seu cheiro
vou tirando seus sapatos
despindo suas roupas amarrotas
e suas suas mãos ávidas
derrubam meu decote
rasgam minha blusa cigana
arrancam minha saia degradê...
com sua boca apetitosa e quente
arranca minha calcinha
cor-de-rosa...

pressinto seu calor no meu calor
seu sexo procura o meu

na inocência de um pássaoro
entra na prisão... devagar...
sua vida afiada em minha vida
sua boca pornô
apetitosa e quente
balbucia
aquelas palavras
que me excitam
arranca meu prazer...

e eu te apertando sentro de mim
descubro seus segresos
as nescessidades de seu corpo...
minhas pernas nas suas entrelaçadas
agressivas, selvagem, feminina...

seu membro atrevido
na inocência de um pássaro
que entra na prisão
penetra minha gruta
faz dela o seu paraíso
goza seu gozo atrevido

precinto você acelerando seu ritmo
e meu silêncio grita seu nome
acelera seu desejo
seu corpo molhado
aconchegado no meu esconderijo
enfia com força, aperta.... treme...
enfiado em meus sentidos
me leva ao infinito...

e o verde ambicioso de seus olhos
meu corpo amansa
entramos no sonho
presinto seu orgasmo
o orgasmo chegando...
A sua vida nesse momento.




















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