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Contos-->Despreocupada e leve, ocupei-me da vida alheia... -- 27/06/2001 - 22:24 (Maira Parula) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Despreocupada e leve, ocupei-me da vida alheia e o tempo voou. O mundo para mim era jovem, grande e gordo. O verão sempre acabava voltando e punha-se a administrar a vida de todos. Minha casa tinha pouca luz, mas as bochechas rosadas de minha irmã a tudo iluminavam. Razão suficiente para instalar-me num mau humor profundo. Segui o curso da corrente de ar e dei com meu pai parado ao pé da escada. Olhos esbugalhados, provavelmente bêbados. Escrever acerca deles exigiria o trabalho de um profissional. Olhos esbugalhados excluem tudo o que não seja o esbugalho. E já era o bastante. Tenho muita preguiça e algumas dificuldades de raciocínio. Uma vez me perguntaram: "Você consegue conceber a totalidade de cada momento?" Engasguei com a metade de um travesseirinho de ravióli. "Essas coisas não pertencem ao momento do jantar", repliquei. Ocorreu-me na hora que minha avó dera a mesma resposta ao ser indagada durante a ceia em quanto aumentaria o salário da empregada. Nossa conexão genética me parecia impossível até então. Ando obcecada por limpeza. Esquadrinho paredes sempre que posso, vejo coroas de flores aqui e ali. Traços, riscos, adjacências. E agora esta chuva ecoando em minha cabeça. Não posso negar que me sinto um pouco esquisita toda vez que a noite cai. Há algo de calculado na minha tristeza. Algo prematuramente criado para não causar surpresa. Sempre que me sinto assim, desço correndo a rua e me misturo aos camelôs. As aglomerações são gigantescas línguas de humanidade, ou nos excitam ou nos dão nojo. Prefiro arriscar. Jesus anda pelos corredores. Eu vi. Em torno de sua beleza lenta um festejo de criados. Rojões e sinos de igreja. Parece que acordei, não suportaria aquela ladainha toda outra vez. Daqui a uns dez minutos as mariposas entrarão pelo quarto e eu descobrirei que é tudo mentira. As mariposas, o quarto, a mentira. Tripulante da sala de visitas, o telefone faz fila para atrair os meus ouvidos. As probabilidades de um domingo agradável me cercam feito arame farpado. Estou com 37 anos e a urna com as minhas cinzas começa a ser deslocada.
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