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Cronicas-->ONOMATOPÉIAS DA ALMA -- 25/02/2001 - 00:19 (MARCIANO VASQUES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ONOMATOPÉIAS DA ALMA


Se o longe existisse, ele iria até lá, mas permanece no silêncio da solidão, onde costumeiramente ouve, enquanto escreve, o tique - taque. Habituou-se a permitir que ele vá se desmanchando suavemente em sua alma.
Acorda cedo.São as horas sem os barulhos que atrapalham a necessária paz, regada pela repetitiva onomatopéia que passeia em cada frase.
Além de ouvir a voz do relógio, da sua janela vê as nuanças no céu, as primeiras cores da manhã nas nuvens pinceladas.No horizonte, o contorno da serra.De vez em quando um avião o distrai e o adverte de que não pode ser esquecida a idéia de voar.
Às vezes, ele ensaia, mas não consegue, não por culpa das suas asas.
Quando começa a se envolver com os afazeres do dia, repara na gentileza das flores brancas no sabugueiro. É dele que vem a onomatopéia mais delicada, desviando o seu rosto, como se quisesse propositalmente iniciar um diálogo, ou simplesmente dizer:
-Eu estou aqui, como em todas as manhãs, aqui...
Vai até o portão recolher o jornal e, na volta, como sempre, olha para o sabugueiro.Jamais conheceu o vizinho. Nem uma palavra sequer, nem ao menos se lembra de tê-lo cumprimentado. Apenas reparou que, além do sabugueiro, o quintal tem na frente uma figueira que de vez em quando volta.
Nunca se deu conta de que tem algo de felicidade no aroma exalado pela pequena árvore, aroma que se espalha e se dissolve na manhã, enfeitando os sentidos dos que passam na rua.
Tampouco percebeu que o gesto principal da figueira é renascer numa estação e depois, noutra, secar e desaparecer. Talvez seja o mais significativo sinal de que a vida pode ser exatamente isso: renascer, ir e voltar, nunca desistir disso.
Um dia, surgiu um girassol no quintal do vizinho, depois ele se foi.Se ao menos conversassem, poderia perguntar sobre o girassol.Seria o seu mais belo desprendimento.
Rádios ligados, crianças falando, vozes na rua, tratores ao longe, buzinas: o dia já toma forma.Não há mais tique-taque.
No entanto, ao final da tarde, em algum momento virá o sabugueiro, como um fiapo de poesia, uma centelha canora suave a distrai-lo do dia.
Talvez nalguma manhã ele fique finalmente repleto de bem-te-vi e se dê conta de que as onomatopéias da alma são o melhor presente que a vida oferece. Nesse dia quem sabe aceite para sempre a amizade do morador do sabugueiro, o pássaro que sempre o chamou.

Marciano Vasques
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