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Contos-->19 - UMA MÃO QUE AJUDA A OUTRA -- 04/08/2020 - 18:01 (GERMANO CORREIA DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

19 - UMA MÃO QUE AJUDA A OUTRA



Há um ditado português que nos ensina que “uma mão lava outra e as duas lavam o rosto” e essa expressão serve para dar ênfase ainda mais ao fato de que a ocorrência de uma troca de favores mútua poderá beneficiar a todos os envolvidos no processo, pouco importando, é claro, que eles sejam destros ou canhotos.



Em suma: haverá sempre uma mão que ajudará a outra, seja ela a mão esquerda ou a mão direita. Inegavelmente, é deste modo que pensa  Billy Lupércio Daniel, que é um canhoto que ao longo de sua vida teve de adaptar-se e atuar como se destro o fosse em meio a um mundo real que não fora programado para o deleite natural das pessoas canhotas.



Em geral, os canhotos são considerados por muitos destros como “desastrados” e, em razão disso, Billy sempre diz que "uma mão tende a ajudar a outra" sob todos os aspectos, seja ela a direita ou a esquerda, e que ambas, juntas, tenderão a lavar o rosto e a escondê-lo, se preciso for, mormente nos momentos em que alguém esteja com receio de mostrar-se firme diante de situações adversas ou até mesmo ao sentir-se infeliz por causa de alguma frustração, seja destro ou canhoto.



Billy reclama que os fabricantes de ferramentas manuais e de objetos de uso doméstico, tanto os do passado como os do mundo atual, demoraram um pouco para descobrir que as pessoas canhotas também fazem parte deste mundo real em que vivem as pessoas destras e, por certo, estão deixando de passar a impressão de que os canhotos são seres vindos de outra galáxia.



Ele afirma que as pessoas destras já encontram tudo pronto, diferentemente dos canhotos que têm de conviver e adaptar-se com as dificuldades que lhe são peculiares, a começar pelo manuseio de ferramentas e objetos de uso doméstico que são projetados para as pessoas destras e que deixam as canhotas em apuros todas as vezes que necessitam fazer uso deles.



São frequentes os comentários jocosos acerca do "mau" uso de tesouras, alicates de corte e de abridores de garrafas que surgem no dia a dia das pessoas canhotas, mas esses não são os únicos objetos que constituem um verdadeiro problema para se usar com a mão esquerda; em contrapartida, se uma versão do mesmo objeto para canhotos, for colocada nas mãos de um destro, na maioria dos casos, ele se tornará incapaz de cortar uma simples folha de papel ou de abrir uma lata de goiabada ou de patê.



Em que pese a ocorrência dessas inconsistências ergonômicas na vida das pessoas canhotas, Billy assevera que hoje não se considera mais um canhoto autêntico; prefere ser visto como um ambidestro adaptado, uma vez que ao longo de sua vida ele teve de superar diversas dificuldades a custas de muito esforço, sempre acompanhado de uma dedicação diária que entende não mais ter fim.



Nos seus primeiros contatos com o mundo da escrita na escola pública onde começou a estudar, ele teve de adaptar-se em tempo recorde com o uso obrigatório da antiga caneta-tinteiro, cuja pena fora projetada, essencialmente, para ser usada por pessoas destras. Entretanto, para provar para si mesmo que “desgraça pouca é bobagem”, algum tempo depois, após ele estar se ambientando a escrever com sua mão esquerda, acabou por machucá-la, acidentalmente, ao fechar uma porta de madeira de sua casa e viu-se obrigado, em seguida, a aprender a escrever com sua mão direita para continuar sua escrita na escola.



Billy também fala com pureza de detalhes sobre as dificuldades de ter que se utilizar, diuturnamente, das carteiras escolares individuais, justamente daquelas que dispunham de uma mesinha própria para apoiar o braço do aluno, quando da realização da escrita ou da leitura, respectivamente.



Segundo ele, essas carteiras também foram projetadas apenas para as pessoas que são destras, pois raramente era encontrado um exemplar delas com sua mesinha instalada do lado esquerdo, facilitando a vida da criança canhota, quando ela fosse apoiar seu braço ao livro ou ao seu caderno durante as aulas.



Com muito desvelo e determinação, Billy correu atrás do tempo que ele necessitava para sua adaptação diária, procurando maneiras viáveis para superar essas dificuldades, à medida que elas iam surgindo à sua frente.



Por causa dessas adaptações pontuais e da sua extrema dedicação aos estudos, a fama de ser ele um aluno diferenciado, dentre os demais das classes por onde passou, corria à solta, mas ele nunca se envaideceu com isso em nenhum momento.



Ele ainda afirma que, afora os rompantes de descontrole emocional, inerentes a todo ser humano jovem e irreverente, ele aceitou ser visto apenas como um simples aluno dedicado aos estudos e sempre foi incapaz de se indispor com quem quer fosse, mesmo nas situações mais adversas, próprias de sua tenra idade infanto-juvenil.



Billy dispunha de pouco tempo para estripulias e brincadeiras fora de hora. Sua rotina diária era a mesma de sempre e naturalmente, ele era diferenciado dos demais colegas de sua escola: todos os dias ele andava de sua casa para a escola, da sala de aula para a propriedade rural dos seus pais e, somente no fim do dia era que ele retornaria para sua casa para revisar as lições recebidas durante as aulas diárias.



Ali, no reduzido espaço doméstico que ele dispunha e na medida do possível, aproveitava todo o tempo útil que tivesse para descansar e em seguida cuidar, sozinho, de suas lições de casa, visando à repetida jornada do dia seguinte.



Segundo ele, seus pais não tinham condições de auxiliá-lo nos seus deveres escolares diariamente, mas mesmo que eles as tivessem, não lhes sobraria tempo disponível para isso devido aos cuidados que deveriam ser dispensados aos demais membros da sua extensa prole.



Por fim, Billy assevera que “apesar dos pesares” ser canhoto é assaz prazeroso e, além disso, apenas o canhoto tem o seu dia específico e que o é reconhecido mundialmente desde o ano de 1996, cuja comemoração ocorre no dia 13 de agosto; Ele comenta que até os ingleses tem sua predileção pelos canhotos e esse reconhecimento surgiu no Reino Unido com o intuito de conscientizar as pessoas sobre os desafios que um canhoto enfrenta em uma sociedade onde 90% (noventa por cento) da população mundial é composta por pessoas destras.



Assim, ante a todas as dificuldades pontuais que se lhe apresentavam no seu cotidiano, Billy lutou bastante para superá-las a contento e cresceu sentindo-se ser apenas uma pessoa normal, sem vaidades ou frustrações, resolvendo a maior parte de suas pendências escolares recorrendo aos livros e aos mestres, em todos os momentos oportunos e/ou necessários.


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