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cronicas-->A VERDADEIRA MAJESTADE -- 25/02/2001 - 08:38 (MARCIANO VASQUES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A VERDADEIRA MAJESTADE

Por acaso eu lia Clarice Lispector quando pela primeira vez prestei atenção no cantor Roberto Carlos. E talvez por causa da Clarice ou por outro motivo que não vale vasculhar, ou talvez ainda porque a alma do acaso é o enigma, e ele, o enigma, não é propriedade dos supersticiosos, comecei a achar curiosa a presença perturbadora do artista.
Mais tarde me dei conta de que a língua foi o gancho para que eu reparasse no ídolo.As críticas eram impiedosas contra aquele que era chamado de Rei da Juventude: tolices criadas pela mídia da época, como a de que os seus gestos eram femininos e podiam influenciar os jovens ou então que ele corrompia a língua, o idioma, com as gírias que propagava.
A resposta do artista foi uma canção chamada "Querem Acabar Comigo". O episódio foi revelador.Há uma grandeza em se responder críticas com uma canção.Porém o que me interessou mesmo foi a questão da língua, a história de se corromper o idioma.A língua já se apresentava para mim como a verdadeira majestade.
Ela escoa, penetra em todos os vãos, é absoluta em seus discernimentos, na possibilidade de metamorfose. Não tem comando e não há lei que a estanque, é a vontade do povo, património do tempo, fonte que jorra das entranhas de uma nação.
Lembrei-me de um jardim, o único em que estive na minha infància, ou que ficou marcado na minha memória.Havia uma flor, seu nome: Dália. Alguém o pronunciou.Talvez ali tenha sentido pela primeira vez as profundezas do espírito da língua.Como há palavras que nascem dotadas de uma cativante sonoridade!
Mussolini, o ditador fascista, proibiu a Itália de usar o pronome Lei.A Itália usa adequada e rigorosamente todos os pronomes. O português é diferente, é mais maneiro.O acadêmico disse que a Língua Portuguesa é uma língua inacabada. Acho que ela tem um jeito próprio de ser, um jeito tropical, eu diria. O caso dos pronomes é típico.Salvo em algumas regiões do Brasil, praticamente não se usa o pronome da segunda pessoa, o tu, e com a segunda pessoa se usa um verbo da terceira pessoa.Pode? Pode, é o jeito da língua.
Pois bem, o fascista Mussolini proibiu o povo de usar o pronome Lei alegando que era feminino para ser usado por homens.Bobagem.A Língua é a Língua.Assim que o fascismo acabou o povo voltou a usar naturalmente nas ruas o pronome.
Tanto Mussolini quanto os críticos do ídolo da juventude se enganaram.Ninguém pode represar a língua.Ela cuida de si mesma.A gíria, se tem sentido, se incorpora.O vocabulário se altera, as palavras mudam de sentido. Bacana é uma coisa numa época e na outra é algo diferente.E assim vai...
Em qualquer reino, ela, a Língua, é o poder maior.Sempre foi de fato o grande instrumento.É, enfim, a verdadeira majestade.


AUTOR; MARCIANO VASQUES








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