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cronicas-->A folha, o vóo e o livro -- 06/11/2008 - 23:40 (Janete Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muitos anos o Fernando Canto me disse uma frase que ficou marcada em minha memória. "Os livros têm o temperamento dos pássaros: cruel o sujeito que tenta por força domesticá-los". O sociólogo queria dizer que lugar de livro é solto, longe de qualquer lugar. Porque livro em seu canto é até uma coisa bonita, mas só canta de verdade aquele livro que é livre. Livro em biblioteca é livro engaiolado, fora de seu habitat. É preciso que alguém o liberte, como uma criança que livra um canário de um alçapão e descola suas penas, abrindo-as para o vóo. Um livro aberto tem qualquer coisa de eterna, como um beija-flor que desafia o tempo com o bater de suas asas. Um livro fechado é albatroz faminto, acorrentado, na estreita espera pela caça.

Hoje, lembrando do ensinamento de Fernando, reflito que só os grandes livros, aqueles de rara espécie, devem ser preservados em cativeiro. E um cativeiro sem trancas que é para que, depois de deixar nossas vidas, possam tornar a elas livremente, numa tarde espontànea de inverno. Só aí saberemos, como no adágio, que eles serão grandes livros. Os pequenos, estes que se atirem do alto de nossas janelas! Certamente não terão aptidão para o vóo, ou antes voarão e logo serão abatidos, mas sempre haverá uma alma caridosa que os devore ou que conserte sua trajetória.
Há ainda os que se enganam e destroem os seus ninhos. Mas os livros se reproduzem como pombos: sempre haverá alguém disposto a alimentá-los; e eles estarão acima de qualquer busto célebre, contaminando a cabeça da juventude e perturbando a paz nas torres das igrejas. Porque o espírito dos livros é santo, e porque os santos também escreveram seus livros.

Há ainda os que proclamam sua breve extinção. Mas os computadores, como os aviões, nunca terão essa leveza rapina, essa graça tão indizível. Porque enquanto houver crianças acreditando em cegonhas, e pais com seus olhos de coruja insone, haverá livros que os acalente, como os fios elétricos da Càndido Mendes às andorinhas e os galhos das árvores aos sabiás. Porque o primeiro livro só póde ser escrito com as penas de uma ave, e a primeira ave só é hoje conhecida pelas páginas de um livro. Porque se Deus é um poeta, seu melhor soneto foi escrito no bico de um colibri. Porque, tivessem mãos os papagaios, em vez de falantes seriam mudos escritores. Porque, não houvesse um Edgard Allan Poe, nem um corvo que cruzasse o seu caminho, seria menos um poema na literatura. Porque não sabemos, nós, escritores, quando vamos precisar que um passarinho verde nos conte uma história.

Porque os livros, como me ensinou o mestre Fernando Canto, têm o temperamento dos pássaros, e os pássaros são o tempero dos céus


Renivaldo Costa


(Este texto recebi por e-mail do amigo Paulo de Tarso e julguei interessante socializá-lo tb aqui - Janete Santos)
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