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cronicas-->O homem que pós o Brasil para ler -- 08/11/2008 - 00:31 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
José Olympio Pereira Filho ou o homem que pós o Brasil para ler

José Nêumanne (*)

Jornal O Estado de S. Paulo, 9/11/2008, Caderno 2

Enfim, à disposição dos leitores, o editor dos livros mais importantes do Brasil no século 20

Que interesse pode ter um livro de capa dura, fartamente ilustrado, sobre a vida de alguém que não foi poeta nem romancista e só esporadicamente escreveu cartas? Esta é a pergunta que um "idiota da objetividade" fará diante das 421 páginas da edição em grande formato de José Olympio - O Editor e sua Casa, com organização, pesquisa de imagens e texto por José Mario Pereira, editado pela Sextante para fazer justiça à trajetória de um modesto filho de português que começou a vida lavando vidros numa farmácia e teve a morte pranteada pelos grandes autores e leitores do País. A resposta pode ser dada numa sentença: qualquer brasileiro que já tenha entrado alguma vez numa livraria deveria saber que o paulista de Batatais José Olympio Pereira Filho foi o mais importante editor brasileiro do século 20. Mas somente lendo este livro minucioso, examinando suas ilustrações raras e passeando pela farta documentação, em grande parte inédita, reunida no anexo, é possível ter uma idéia de que a expressão a que recorreu o organizador do volume (que é Pereira Filho, mas não é parente) - "o civilizador do Brasil" -, embora justa, chega a ser modesta diante do que fez o personagem.

Editor da Topbooks, que lançou, entre outros, o portentoso A Lanterna na Popa, de Roberto Campos, José Mario Pereira garimpou nos arquivos da Livraria José Olympio Editora provas mais que suficientes de que, mesmo não tendo a cultura livreira de um António Houaiss nem o gênio comercial de um Mauá, José Olympio fez mais pela cultura nacional que a União e os Estados juntos desde Tomé de Souza. Apesar de empregar parte dos orçamentos anuais para o incentivo à cultura, o poder público no Brasil nunca conseguiu fazer nada mais relevante que pagar os vencimentos do servidor Machado de Assis, permitindo-lhe assim legar à posteridade uma obra da qual o Brasil pode se orgulhar muito. Após ter comprado e vendido a biblioteca de Alfredo Pujol em São Paulo, J.O. entronizou o Rio de Janeiro como capital cultural do País meio século antes da Rede Globo, lançando toda a obra dos romancistas, poetas, críticos relevantes e até do pintor Portinari, que foi capista da editora e teve por ela lançado, logo após a morte, um livro de poemas.

Augusto Frederico Schmidt descobriu Graciliano Ramos lendo o relatório do então prefeito da remota Palmeira dos índios, Alagoas, e dele publicou o livro de estréia, Caetés. Mas foi na editora de José Olympio que mestre Graça se tornou conhecido nacionalmente. J.O. fez as melhores edições de José Américo de Almeida, embora não tenha lançado a primeira de A Bagaceira. Do Ceará projetou para a glória a jovem Rachel de Queiroz, na editora a partir de seu terceiro romance, Caminho de pedras. Guimarães Rosa perdeu um concurso literário na Casa com os contos depois editados sob o título de Sagarana, mas foi a LJOE que publicou em 1956 o Grande sertão: veredas e os dois volumes de Corpo de baile. Gilberto Freyre, gênio de Casa grande e senzala, lançado por Schmidt em 1933, e na José Olympio a partir da 4ª edição, ganhou na "Casa" as suas melhores edições, além de ter sido o primeiro diretor da coleção Documentos brasileiros, inaugurada em 1936 com Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.

Pode-se discutir quem foi o maior poeta brasileiro do século 20 - Manuel Bandeira ou Carlos Drummond de Andrade -, mas o editor de ambos foi J.O. E também foi ele quem fez as melhores edições de Murilo Mendes, Cassiano Ricardo, João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes. Sua logomarca está impressa na primeira edição de livros fundamentais da sociologia brasileira - como Os parceiros do Rio Bonito, de Antonio Candido. Assim como, no campo da ensaística, a Casa foi pioneira, ao publicar clássicos como Machado de Assis (Estudo crítico e biográfico), de Lúcia Miguel Pereira, a série dos ensaios literários de Álvaro Lins, ou o excelente Um estadista da República, os três volumes em que Afonso Arinos examinou a biografia do seu pai ilustre.

Editor importante no começo dos anos 1930, Augusto Frederico Schmidt lançou os seus melhores livros de poemas e de memórias, como O galo branco, na José Olympio. A editora de J. O. publicou ainda as memórias de Gilberto Amado e, depois que adquiriu a editora Sabiá, editou Pedro Nava. A mesma editora que trouxe a lume um dos mais badalados livros do gênero, Minha vida de menina, de Helena Morley, publicou autobiografias de Brito Broca, Café Filho, Juarez Távora e Daniel Krieger.

José Olympio foi o hábil comerciante que lançou os grandes nomes da literatura e os livros dos poderosos de seu tempo, notadamente Getúlio Vargas. Mas isso não o impediu de editar adversários de Getúlio, caso de Afonso Arinos. Os autores da Casa traduziam obras de sucesso no exterior - como o best-seller Minha vida, de Charlie Chaplin ou a obra completa de russo Dostoievsky, fartamente ilustrada, ou a de A. J. Cronin.

O livro de José Mario Pereira revela pérolas como o recibo assinado por José Lins do Rego documentando o recebimento de uma comissão pela venda de livros para seu Estado natal, a Paraíba. E as muitas dedicatórias afetuosas de autores como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Carlos Drummond para J. O. Ele dá à saga de José Olympio a dimensão que, apesar do muito que já se escreveu sobre o editor ainda lhe era devida. Da obra de pesquisa séria, bem-documentada, um modelo a ser seguido no gênero, emerge um titã e um exemplo definitivo de que uma cultura de verdade não se faz com favores oficiais, mas com engenho, esmero e coragem.

(*) José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde.

e o texto escrito para as orelhas do livro de André Heráclio do Rego sobre coronelismo e família, que está sendo editado pela Girafa Editora:

Coronelismo, agora com tecnologia de ponta

José Nêumanne

Um dos clássicos do folclore político nacional selecionados pelo jornalista baiano Sebastião Nery é o causo, segundo ele verídico, protagonizado pelo coronel Chico Heráclio do Rego, de Limoeiro, interior de Pernambuco. À época do episódio, votava-se em cédulas impressas postas pelo eleitor num envelope que, lacrado e assinado pelos mesários, este depositava na urna. O coronel em questão reuniu seus moradores, mandou que ficassem em fila indiana e lhes entregou, um a um, os envelopes lacrados com as cédulas dos candidatos sufragados. Aí era só ir à seção eleitoral, pegar as assinaturas dos mesários e votar. Votar? Pois é! Um cabra mais ousado resolveu perguntar: "O senhor pode me dizer pelo menos em quem eu vou votar, coronel?" A resposta foi ríspida e rápida: "Então, cabra ignorante, tu não sabes que o voto é secreto?" Apois. Depois de uma campanha cívica da UDN, a oposição da época, foi consagrada a cédula única na qual o eleitor marcava com X o nome do candidato escolhido. Veio o voto eletrónico, o coronel morreu, mas o coronelismo está aí vivinho da Silva. A diferença é que os chefões políticos de hoje em dia recorrem à tecnologia "muderna" para praticar o "neocoronelismo". O governo federal, seja pretenso social-democrata, seja falso socialista, distribui cartõezinhos de plástico para dar acesso do miserável às proteínas do Bolsa Família: este é o assistencialismo estatal. O particular fica sob as ordens do crime organizado. Os traficantes de drogas e os milicianos que os combatem ordenaram a seus currais eleitorais concentrados nos bairros miseráveis das periferias das grandes cidades brasileiras que usassem seus telefones celulares de tecnologia de ponta para fotografar a maquininha de votar e assim assegurar que ninguém está traindo a promessa do voto no candidato preferido da quadrilha ou da milícia. Precisa dizer mais alguma coisa para o preclaro leitor sacar a atualidade deste livro do André Heráclio, que é do mesmo clã do Rego ao qual pertencia o velho Chico?


(*) José Nêumanne, jornalista, escritor e comentarista de rádio e televisão, é diretor editorial de A Girafa Editora.

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