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cronicas-->O Touro Sentado -- 09/11/2008 - 21:07 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Touro Sentado


Pery Kitto o bêbado desatinado, de cujos dentes destruídos só restaram cacos, naquela boca mal cheirosa, não tinha conseguido, mais uma vez, conciliar o sono e, por isso acendendo outro cigarro, logo pela manhã de domingo, sentou-se no cepo da urucubaca.
Era no toro que tentava colocar as idéias, confusas, naquilo que ele considerava ordem. Em outras palavras: era no cepo que ele, sentado, esperava a cabeça esfriar.
Naqueles dias Kitto dedicava-se a laborar um plano que fizesse as crianças, sob sua guarda, mais humanizadas, e deixassem de atazanar-lhe tanto os cornos.
Pery achou que se distribuísse pancadas, todas se aquietariam, mas com certeza, logo em seguida as aporrinhações, iguais às chamas que ressurgem das brasas ocultas sob a relva, reiniciariam. Ele desconfiava que esse tipo de paz, conseguida à mão equipada com pedras, não durava muito.
Então, sem saber o que fazer, Pery igual ao Touro Sentado, o chefe indígena, do Velho Oeste norte-americano, fumava e fumava, acomodado no toco.
Em alguns momentos daquela angústia, que não passava, ele chegou a pensar que enlouqueceria. Agoniado ele se perguntava:
- É justo?
Pery era auto-suficiente e, por isso não precisava de ninguém para formar juízos sobre as pessoas. O que ele achava estava achado e pronto! Se sob seu olhar, o matuto da horta, era egresso da cadeia, ninguém tirava-lhe isso da cabeça.
Teimoso Kitto atribuía a arrelia que faziam as crianças ao desequilíbrio mental, e por isso então, considerando-as loucas, lutava para que tomassem calmantes.
Mas numa certa tarde Pery, não suportando a insónia perseverante, foi até a igreja As Barbas do Abraão, que ficava na rua Bela Vespa, onde póde ouvir o pastor dizer-lhe, com todo o carinho possível, que deveria parar com a borbulhante e o pito, do contrário teria de enfrentar problemas maiores do que a folia das nenês.
O pastor falara em AVC, também conhecido como derrame cerebral, de infarto do miocárdio, e até do càncer. Mas Pery não conseguia livrar-se dos vícios que o acompanhavam desde menino.
Então Kitto punha-se a falar sozinho, sentado naquele pau duro, de onde, envolto em muita fumaça, tentava formatar os projetos salvadores.
Ora, Pery não conseguia entender que as causas da sua insónia não eram as algazarras das crianças, mas sim os maus hábitos que cultivava.
Não adiantava o Kitto dizer, com insistência, às crianças: "vocês são loucas, precisam ir ao médico, precisam de remédio", que elas nem lhe davam tchum.
Então, não tendo mais nada a fazer e, considerando certo o provérbio "O que não tem remédio, remediado está", Pery bastante deprimido acendeu, naquela manhã triste de domingo, mais outro cigarro, soltando para o alto a fumaça cinzenta, logo diluída no ar fresco de Tupinambicas das Linhas.


Fernando Zocca
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