Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62284 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Carandiru - O Filme -- 17/04/2003 - 14:05 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sábado de sol no centro de São Paulo. Decido ceder à expectativa quase eufórica de desbravar o universo carcerário de Carandiru, novo filme do brasileiro, geograficamente argentino, Héctor Babenco, baseado no best seller de Drauzio Varella, Estação Carandiru.



Driblo o pré-conceito. Um "Cidade Alerta", um "Brasil Urgente" cinematográfico? Visualizei até o urubu-helicóptero característico.



Frente a frente, dois cinemas, ambos na avenida Ipiranga. "O Demolidor - O homem sem medo" de Mark Steve Johnson é a atração do Cine Marabá às moscas, um retrato do descaso. Americafobia? A roupa ridícula e chifruda do herói? Não, o motivo da ausência de público ali é outro. O aguardado "thriller" de Babenco está em cartaz no cinema vizinho, o Ipiranga. Lotado!



Sempre sonhei com esta cena. Vivi o suficiente para vê-la! A fila preenchia meio quarteirão! Todo este povo veio aqui por um filme nacional? Belisquem-me. É Verdade!



"Cidade de Deus", e outros filmes nacionais, já haviam causado um certo "frisson" na nova platéia brasileira, recativada a duras penas. O contexto agora é outro. Atípico. Até a guerra perdeu espaço na imprensa, frente ao tão prestigiado lançamento.



O momento sugere, até mesmo, a consolidação do cinema Tupiniquim. Espero que sim! Espero igualmente, porém, que variem o tema do próximo sucesso. Não gostaria de, um dia, chegar à triste conclusão que o sangue é o segredo, o responsável por arrebatar multidões.



Ingresso: R$ 5,00. O som da sala é péssimo. Cadeira desconfortável e quebrada. Explicado o valor.



Quinze minutos foram suficientes para derrubar a imagem precipitada e errônea por mim concebida. O cineasta, amparado pela competente fotografia de Walter Carvalho, emoldurada com o malabarismo mágico de Mauro Alice na montagem, transformou um complexo penitenciário horrendo e ineficiente em um local equivocadamente normal, em certos momentos, aprazível, nos deixando à vontade. As cenas não agridem. O ambiente estranho, não assusta. Incrível!



Aí é que mora o perigo! Mesmo mostrando todas as atrocidades características de quem tem de ser obrigatoriamente trancafiado, os detentos ficaram sensíveis demais, inverossímeis.



"Carandiru" não é uma obra prima. Entretanto, já entrou para a história.



Milton Gonçalves está sublime como sempre, Rodrigo Santoro, magistral como o travesti Lady Di e Wagner Moura impecável no papel de Zico, o viciado em crack. Figurantes, bem dirigidos, assemelham-se aos do "Central Do Brasil" e convencem. Não existe um protagonista, todos são coadjuvantes. A estrela é o presídio, e ganhou vida, renasceu dos escombros da implosão.



Uma legenda avisa que somente a versão dos presos foi ouvida. Perigoso! Perfeitamente aceitável se o público tivesse acesso, mesmo que por outros meios, às demais versões, principalmente no que concerne ao massacre de 2 de outubro de 1992, onde morreram 111 presos, segundo a versão oficial. Conversei, por acaso, no domingo, com um soldado da Polícia Militar e dele ouvi uma consideração interessante: - Vejo bandidos o dia inteiro. O senhor acha que vou sair de casa com minha família para ir ao cinema ver mais?



Imagino um vaso sobre uma mesa. De ângulos diferentes duas pessoas observam o mesmo objeto. Porém, apenas uma delas pode ver o lado rachado. Héctor Babenco optou por não ouvir ninguém, ser fiel ao livro e deixar o vaso contar a história.





Silvio Alvarez, 36 anos, é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. E-mail: silvioalvarez@terra.com.br



A ilustração de Bruno César pode ser vista em www.40graus.com - Vale a pena!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui