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cronicas-->O MIMEÓGRAFO -- 14/11/2008 - 12:28 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A primeira vez que entrei em contado com uma redação de jornal, se assim posso descrever o local, foi no Ginásio Carlinda Ribeiro, em 1956.
O ano escolar, 1955, fora demais desastroso, para um desastrado do meu calibre.
Cursava a segunda série no Ginásio Imaculada Conceição. Mas as farras, somadas às vezes em que cabulava aulas, levaram frei Plácido, diretor do estabelecimento, a pedir ao meu pai o grande favor de me transferir para outra escola. Em suma, tinha sido expulso.
Assim, cheguei com a cara e a coragem no Carlinda, para repetir a segunda série, pois lá aceitavam repetentes e expulsos de outros colégios. Pela taxa de matrícula e as mensalidades, caríssimas, tinham mesmo de aceitar qualquer um!
No primeiro dia de aula, encontrei mais dois companheiros, também vindos do Imaculada, Haroldo e Valiengo.
A proprietária do ginásio era dona Carlinda, irmã da Secretária da Educação, na época, Carolina Ribeiro.
Esta escola era ideal para alunos iguais a mim!
Só para dar uma noção dos anjinhos que lá estudavam, Valiengo, velho conhecido, às vezes ia para a escola com o revólver do pai na cintura. E ainda dizem que os tempos mudaram!
Assim, fui fazendo outras amizades, e sempre considerado pelos professores um péssimo aluno.
As meninas adoravam os mais capetas, talvez por influência do ator norte-americano James Dean, falecido em 1955, aos vinte e quatro anos, num acidente de carro. O galã gostava de alta velocidade! Dean foi o principal ícone, nos anos 50, da "juventude transviada", nome do seu primeiro filme de sucesso.
Também havia Marlon Brando, que arrancava suspiros das meninas nos cinemas.
Não podemos esquecer de outro ídolo, Elvis Presley, pois o rock já agitava os nossos bailes de sábado à noite.
Voltemos ao Carlinda Ribeiro.
A turma mais velha, da pesada, mantinha um jornalzinho semanal, O Alfinete.
A redação era na secretaria da escola, onde usávamos máquina de escrever, papéis e um mimeógrafo a álcool. Tudo isso gentilmente cedido pela dona Carlinda.
Com o tempo, passei a fazer parte da redação.
Os chefões eram o Darcio Pascale e o Murilo Marques Júnior.
Nos sábados de manhã, reuníamo-nos na secretaria com o material desenvolvido durante a semana.
Tirávamos a fita preta e vermelha da velha Remigton, quiçá trazida nas caravelas de Cabral, para uso de Pero Vaz de Caminha, e a substituíamos por uma fita copiativa.
Datilografados os textos, os mesmos iam para o mimeógrafo, do qual tirávamos as folhas necessárias para montar o jornal.
Depois de prontos, os jornais ficavam com seis páginas, frente e verso, e, pasmem, seriam vendidos na segunda-feira.
E como quase ninguém pagava, a gente prosseguia, fazendo o jornal de letras roxas - de vergonha, inclusive - sempre no vermelho.
Para matar a saudades, coloco, abaixo, trechos de um desses exemplares, guardado com carinho. Peço desculpas pelos erros de gramática, em geral, cometidos pela rapaziada, fora de sintonia com as aulas de português:
"Humor. O professor de português perguntou ao Homero: Qual a palavra da língua portuguesa que tem mais acentos? De pronto ele respondeu - Papa-Fila."
"Filmes da semana. O maior espetáculo da terra. Grande interpretação da Marjorie. Os três vagabundos. Interpretado por Alfredo, Rames e Roberto. Dois corações e uma alma. Com Marly Garcia, Nícia e José da Cunha".
"Parada de sucessos. 1º Lugar - Sucesso absoluto de Maria Nícia, acompanhada de todas as jogadoras que participaram do campeonato de vólei".
"Torta de professores" Para fazer essa torta precisa-se de bastante astúcia. Ingredientes: 5 gramas da bondade de dona Carlinda. Meio quilo da energia da professora de matemática. 800 gramas da ligeireza do professor de português. 10 gramas da delicadeza da professora de francês. 100 gramas da tolerància da professora de desenho. 15 gramas da astúcia da dona Júlia. Mistura-se tudo e passa-se na peneira da tolerància, depois enfeita-se com as florzinhas do colégio, logo em seguida, põe-se na bandeja da expulsão e manda-se para a barriga da paciência".
Outra anedota da Guerra Fria, entre Estados Unidos e Rússia, editada n´ O Alfinete:
"Cachorros Pilotos? Em um avião americano, em vóo para Bagdá com uma tripulação de três homens e transportando dois cães, o seu piloto observou que a gasolina se esgotara. Sem perda de tempo e sem poder aterrissar devido ao nevoeiro, ligou o piloto automático e atirou-se de paraquedas com os companheiros, deixando no avião os animais. Os camponeses da região viram o avião passar através de uma estrita cadeia de montanhas, baixar sobre o vale e aterrizar suavemente em um campo. A notícia espalhou-se logo, por toda a região. Os turcos passaram a encarar o futuro com mais otimismo. Sabiam agora que os russos não levariam a melhor. Os incríveis americanos possuíam cachorros treinados para pilotar aviões. Estraido do "Times" e interpretado por H.P".
E, assim, O Alfinete alfinetava todos, com palavras cruzadas, notícias e mexericos.
Em 1957, trabalhando como office-boy e estudando à noite, pois fui convidado a deixar também o Carlinda Ribeiro, perguntaram-me, no escritório, se eu conhecia um mimeógrafo.
De pronto respondi que sim!
Quando voltava da rua, trabalhava no mimeógrafo, também a álcool. Outra função minha era copiar os textos mimeografados nos livros da empresa. Era um trabalho artesanal: eu intercalava folhas mimeografadas em papelões umedecidos, em cada página numerada do livro. Depois de preencher dez páginas, o livro era prensado, manualmente. Assim, ficavam registrados os diários e a contabilidade da empresa.
Todas aquelas prateleiras foram substituídas por cds ou pen drives de back-up, que cabem em uma única gaveta.
Tanto esse serviço quanto os equipamentos ficaram sob a minha responsabilidade até eu deixar a empresa, como auxiliar de escritório, em 1959.
O mimeógrafo, utilizado para tirar cópias de textos originais, com uso de estêncil a álcool, foi idealizado por Thomas Edison, em 1876, e se tornou um aliado na rotina das escolas e escritórios, até a chegada das máquinas de xerox e dos computadores.
O tempo passou e as farras de estudante ficaram no passado.
Hoje, digitei esta pretensa crónica em meu computador, com uma impressora e copiadora ao lado, porque, com nostalgia, senti saudades dos antigos, mas ainda funcionais, mimeógrafos.


Roberto Stavale
São Paulo, Novembro de 2008.-
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