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cronicas-->O pé-leve -- 17/11/2008 - 12:14 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pé-leve





Pery Kitto envergonhando a família toda, naquele dia em que encheu de tijoladas o vizinho corintiano, não conseguia esquecer o mico que pagara, resolvendo por isso, fazer uma promessa.
Ele pediu então ao seu santo de devoção, que o livrasse daquele horrível opróbrio inundante d´alma e, em troca, iria para Aparecida do Norte à pé.
Mas Pery Kitto, por ser muito sem vergonha, pé-leve, quando tinha de cumprir sua parte, esquecia-a assim, como se não tivesse feito pacto algum.
Ora, se caindo então naqueles estados de torpor característicos dos bebuns deficientes, Pery não se lembrava nem dos compromissos do dia-a-dia, imagine se honraria suas palavras com os seres santificados.
Blasonava o pobre desdentado, nos bares por ele frequentados, que conseguira lobrigar, depois de muito sofrer, não mais cercar ninguém nas esquinas, mandando-lhes tijolos nas fuças.
Mas a rapaziada do quarteirão já conhecia a índole da figura: Pery perseguira, numa ocasião, outro pobre coitado pelas ruas, de peixeira na mão direita e o cigarro Mil aceso, na esquerda, provocando um alvoroço danado na comunidade.
Daquele frege poucos se lembravam. Mas a viúva e os fihos do perseguido guardavam reminiscências ainda vivas do vexame. O fato deu-se numa noite, logo depois do Jornal Nacional, alguns dias antes do carnaval, de um ano já distante na consciência das famílias envolvidas.
Pery só não matara, a facadas, o professor residente na esquina, mais por sorte dele - do professor - do que por falta de ànimo, de sanha assassina exacerbante.
Naquele tempo já era comum, na família do Pery, tentar fechar a rua com a ocupação da calçada. Eles se espalhavam pelo caminho sentando-se no chão e dispondo, no solo, garrafas, copos, maços de cigarro e outros objetos, como se estivessem num piquenique.
Eram encrenqueiros, perigosos, loucos, irresponsáveis e violentos. Qualquer palavra ou gesto que lhes atingisse a suscetibilidade, despertando-lhes o ressentimento, era logo respondido com truculência e maledicência posterior.
Alguns vizinhos que se achegaram tempos depois, no trecho, quando Pery já aparentava sinais decadenciais, não conseguiam acreditar que Kitto era mesmo um ferrabrás inconsequente. Só puderam perceber ser o homem perigoso, naquele dia do ataque com os tijolos.
Em decorrência do medo, não desejando atrair contra si os maus humores do folgado, os demais vizinhos do lugar foram unànimes em dar-lhe razão, tornando justificada a investida.
Assim como George Bush, objetivando conseguir do congresso norte-americano, a aprovação da liberação de verbas, para o envio de tropas contra o Iraque, teve de mentir afirmando possuir aquele país armamento nuclear, Pery espalhou na região, por meio dos seus parentes, a mentira de que a vítima havia lhe atirado tijolos antes.
A ausência de provas materiais contra o suposto lançador de pedras, foi suplantada pelo medo que os demais moradores tinham do Pery e sua turma. Acreditaram no que ele dissera sem questionamento.
E mais: todos os demais moradores, receando as represálias daquela gente ruim, não criticaram quando Kitto quase matou o cidadão a tijoladas.
Mas vendo-se às voltas com sua consciência Pery, o pé-leve, mostrava-se ainda vacilante em pagar a promessa que fizera ao santo protetor.
Talvez, naquele estado em que se encontrava, nem mesmo as derrotas vergonhosas do seu time do coração, pudessem convencê-lo de que estava equivocado em fazer as maldades que sempre fizera.


Fernando Zocca.

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