Um toque de esquerda
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Quando fazemos uma análise política ou uma dissertação ideológica exercitamos nossa compreensão dialética do momento histórico. Colocamos em tela nossa visão e posicionamentos nas mais variadas questões dentro dessa conjuntura. No século passado vivemos a dualidade da guerra fria. Se não compreendemos como avança a humanidade – o que não quer dizer que eu compreenda – e no afã de interpretarmos os momentos históricos, acabamos ressuscitando a polarização capitalismo e socialismo. E isso mexe com nossos pensamentos utópicos ou não, capitalistas ou não.
O Brasil, particularmente, vive um momento histórico inusitado e interessante.
Há um governo eleito com uma plataforma de esquerda. Como também há um governo que nos acena com reformas que o neoliberalismo não conseguiu fazer. E isso nos preocupa. Entretanto, não devemos tratar ideologicamente ações de governo. Se “ideologizarmos” as propostas de reformas políticas, o governo não governa. É difícil julgarmos as proposições de um governo sem escaparmos do enquadramento de direita e esquerda.
Um exemplo prático: Quando serve para direita achincalhar a ideologia de esquerda o governo Lula é de esquerda. Equipara todos os governos, ditos de esquerda, com o atual governo do Brasil. Agora, quando é para criticar o Lula, principalmente na composição e nas políticas de governo, o Lula “endireitou”.
Particularmente parto do princípio que a esquerda tem a responsabilidade pelo e sobre o governo brasileiro. É o maior partido de esquerda da América que está no poder político no Brasil. Embora todas as suas idiossincrasias. Com Meirelles ou sem Meireles, com Sadia ou sem Sadia, a esquerda é poder.
Mas sempre haverá alguém perguntando: E os ministros burgueses? E o presidente do BC? Como será a autonomia do Banco Central?
Buenas! Aí temos que analisar a política de governo. Serão conservadoras, transformadoras ou simplesmente reformistas? Ainda acho prematura as críticas ao Lula, entretanto considero algumas reformas com um encaminhamento preocupante.
Quando alguém com clareza, argumento e exercício dialético, compõem críticas severas e contundentes ao governo de Lula, compreende-se e aceita-se, afinal estamos numa democracia participativa. Há o direito a critica e a contra-argumentação. O que é inaceitável é fazer-se uma crítica genérica, descabida e desproporcional (de uma direita raivosa e sectária e que não consegue viver em um Estado democrático de direito) rotulando a esquerda como uma só. Um bloco monolítico. Coisa que a esquerda, definitivamente, não é. Haja vista os críticos do governo Lula no Parlamento. Se não são os próprios parlamentares do PT?
Há a esquerdalha night? Há. E daí? Que haja. Façamos o contraponto com argumentos é para isso que as palavras servem.
Palpiteiros e palpites sempre haverá. Vez por outra aparecem “respeitáveis” aberrações quase-ideológicas. Entretanto, devemos conter nosso ímpeto frenético e contermos verbo.
O que devemos identificar no governo e nas propostas de governo é a ação com responsabilidade. Ou será que teremos que fazer, irresponsavelmente, a estatização do Sistema Financeiro? Ou rompermos em definitivo com o FMI? Como já vi escrito por aí.
Há quatro mandatos o PT é governo em Porto Alegre e em vários municípios pelo Brasil. O PT aprendeu a ser governo. O PT em seus 22 anos amadureceu e chegou a Presidência do Brasil. Coisa que, por exemplo, o trabalhismo liderado por Brizola não conseguiu. Se o PDT e demais partidos oriundos de base popular não conseguirem fazer a compreensão histórica desse momento, infelizmente, ficarão ao largo dos acontecimentos. Ficando na crítica pela crítica.
É sabido que o Brasil necessita de reformas, principalmente as de cunho social, e a sociedade organizada precisa fazer valer sua força. Pois, o Brasil e o mundo avançam com seus acertos e erros, com suas guerras e apelos de paz e nós não podemos ser meros expectadores desse filme em tempo real.
Pra não dizer que não falei das flores... E de Cuba
|