Num brevíssimo textozinho, eu conto-te a faceta do Bombom.
O nosso amigo Edmir, presumindo que fosse eu o autor do bem inspirado baptismo, considerou ser óptimo que se ponha o nome de "Bombom" a um lindo e simpático canino. Mas não, não fui eu o padrinho. A história é outra e, se ainda não deu romance, deve-se tão só a um pormenor, para mim muitíssimo importante: fico de pé atrás com donas ou donos de cães que se apresentem de coleira.
Ora, a dona Henriqueta, de cinquenta e picos anos muitíssimo bem tratados - já matou dois maridos - é uma cliente do Café Novo. Nas cerca de trezentas e tal palavrinhas que já trocamos, captei-lhe o silencioso sentido: anda à procura de um homem que esteja bem na vida para pôr a vida dela ainda melhor. Melhor?!...
A dona Henriqueta, às vezes, trás consigo ao café a Violeta, que é uma esplêndida cadela finória que não passa cartão seja a quem for, alheia a festinhas sobre o pêlo e sequer levanta as orelhas, logo que na sala porventura apareça um cãozinho ou um canzarrão.
Isto, o que descrevo, tem mais ou menos três anos de memória. Sequer notei que a Violeta tivesse engravidado, o que terá acontecido quiçá numa escapadela que tenha dado com coleira, trela e tudo.
Há uma trintena de dias, a dona Henriqueta apareceu com um cão-bebé ao colo. - Que lindo cãozinho!... Disse eu. - É um dos seis filhotes da Violeta... Disse ela. Esclareceu que decidiu ficar com aquele. - Chama-se "Bombom" - afirmou feliz - enquanto depositava uma franca beijoca no nariz do lindo bichinho.
Com delicado jeito, pedi licença e tomei o "Bombom" nas mãos. Fiz-lhe umas ternas festinhas na barriga e de repente senti algo húmido nas minhas calças, mesmo em cima do sítio das precisões. Diacho, o Bombom, talvez consolado com as minhas meiguices, deu-me uma abundante mijadela. Ó que embaraço... Sai do café a correr muito, pois...
Dias adiante, a dona Henriqueta, que sabe a minha propensão por belas imagens e fotos, trouxe-me três poses do Bombom e uma da Violeta...
- É muito lindo, pois então não é, senhor Guia?
Sim, o Bombom é mesmo lindo-lindo, só que, aquelas duas alianças, uma atrás da outra, no dedo anelar da dona Henriqueta, tiram-me a coragem de dizer-lhe francamente que não aprecio as pessoas que põem coleiras nos cães...
- Tadinho do Bombom, né?! Se fosse meu, ensinava-o a ser um cão do caraças. Até uma Bomboca lhe arranjava para que a doçura fosse plena...
António Torre da Guia |