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cronicas-->Quero ir para a Lua -- 24/11/2008 - 21:36 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado

QUERO IR PARA A LUA

Nivaldo Cordeiro

24 de novembro de 2008

Ao Rubem de Freitas Novaes, um amigo otimista

Sim, meu caro leitor, estamos em meio a uma grave crise, de escala planetária. Ela nos afetará enquanto país e enquanto indivíduos isolados. Não há que ter ilusão e o certo é cada um se preparar para o pior, que cautela não faz mal a ninguém. Isso significa adiar gastos, poupar o que for possível e viver dentro de um orçamento curto. A idéia esquerdista de que se deve gastar para manter a bicicleta andando é tonteira besta e deve ser ignorada. Mais do que nunca precisamos restabelecer as bases naturais do processo económico e elas se iniciam na poupança individual.

Os jornais do final de semana exaltaram a enormidade da queda de preços das commodities no mercado mundial, fato que afetará a nossa balança comercial diretamente. É provável que nossos superávits dos últimos anos desapareçam. Da mesma forma, a chegada de capitais de risco deverá minguar, mesmo com o governo Lula mantendo os juros nos patamares indecentes de sempre. Esses dois fatos combinados podem reduzir rápida e drasticamente as reservas internacionais e trazer de volta a velha senhora que nos ameaça desde a Proclamação da Independência: a crise cambial. Ela é sempre mortal e costuma ser o ponto de partida para a disparada inflacionária.

Como já vivi meio século pude testemunhar muitos desses momentos entre nós. Mas devo dizer também que não vivi nada parecido com o que está posto agora. O único paralelo é a crise de 1929, mas esta, entre nós, ficou circunscrita à economia de exportação, com destaque para o café. Na década de trinta o Brasil ainda tinha cerca de 80% de sua população residindo no campo e toda a gente exercia algum tipo de atividade que permitia a subsistência. Hoje a proporção é inversa e está todo mundo integrado à economia monetária, no sistema de trocas.

Cito aqui dois elementos para sublinhar a fonte dos meus terrores: nos anos trinta o combustível principal que queimava nas residências era o carvão vegetal ou lenha e "botar água" no pote, tirada do poço ou da fonte, era atividade cotidiana de quase todas as famílias. Hoje, não. Todos têm que queimar gás de cozinha e pagar a conta da água encanada. Nem lenha há onde colher nas grandes cidades. Uma suspensão temporária do rendimento de uma parcela elevada da população pode significar uma interrupção nessas duas funções básicas da vida, o cozinhar e o "botar água" na caixa, por simples falta de dinheiro. Dá para se visualizar o tamanho da tragédia.

Fico a imaginar um cenário de elevação brusca de desemprego em uma cidade como São Paulo. É um convite à desordem e ao crime, em face do efeito aglomeração e em face de não existirem mais as grandes famílias de antigamente, cujos membros se apoiavam reciprocamente. A redução das famílias, com menos filhos e casamentos tardios, eliminou aquela forma de "seguro" familiar que era o arrimo dos desamparados. Muita gente hoje está sozinha consigo mesma, possuindo alguns poucos parentes. Não há muro de proteção algum que não aqueles erigidos pelo Estado.

E é aqui que está a grande contradição e o grande perigo. A origem da crise é a ação exorbitante e desastrada do próprio Estado, tanto nos EUA, na Europa e aqui mesmo entre nós. Em toda parte. Na hora mais decisiva, em que a crise económica provavelmente vai se transformar em crise política, as pessoas estarão na máxima dependência do ente estatal. E, vejam, todas as recomendações dos gerentes da crise em escala mundial sempre partem de um duplo (falso) suposto: de que a solução da crise depende de mais ação estatal e de que este tem força e meios para enfrentá-la. Se assim fosse a crise não se instalaria jamais, vejam a enorme mentira estampada.

A recomendação é falsa porque a crise tem como lógica interna precisamente enfraquecer o Estado e reduzi-lo, a fim de trazê-lo a proporções humanas. É uma necessidade dos tempos. A crise é, antes de tudo, a crise dessa forma de Estado. Precisamos restaurar o velho estado liberal, a velha moralidade judaico-cristã, restabelecer a simplificação das relações jurídicas. Lamentavelmente não se fará isso de forma negociada e racional, politicamente, negocialmente. Ao contrário. Só um tranco de proporções cataclísmicas para restabelecer a vida humana como sempre foi.

Depositar na ação do Estado a esperança de que escaparemos, seja no plano coletivo, seja no plano individual, das sequelas da crise é uma ilusão. O Estado Total não tem esse poder. Quando chegar a etapa política da crise económica - e a eleição de Obama pode ser considerada como um efeito direto da crise - é que veremos o bicho na sua real proporção e na sua crua ferocidade. Se eu pudesse pegava o primeiro foguete para a Lua e assistiria de lá as peripécias. Infelizmente só temos esse mundo. Terei que ser um observador participante dessa mega tragédia que se avizinha, mesmo a contragosto e com total consciência do que se passa.

Quem viver verá.


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