Van de Oliveira Grogue resolveu estudar. Considerava sua vida até aquele presente momento bastante monótona. De fato, crianças não eram seu forte. Ele não tinha mesmo jeito para babá, e que a contenção daqueles infantes, a partir daquele momento, fosse feita pela concubina.
Então o nosso amigo, deitando-se naquele seu sofá um tanto quanto que puído, abrindo o livro antes retirado da estante, pós-se a folhea-lo com algum interesse.
O primeiro texto que lhe apareceu foi sobre uma planta que havia no terreno baldio existente defronte sua casa. Era a guiné. Como não sabia o que era aquilo, passou a ler atentamente o texto que dizia assim: "guiné. Do topónimo Guiné. 1. Brasileirismo. Botànica. Planta da família das fitoláceas (Petiveria Tetranda) erva-pipi, tipi, tipu, tipuana. 2. Brasileirismo. Pernambuco. Zoologia. V. galinha-d´angola".
Prosseguindo com mais atenção, Van lia com voz murmurante: "Guiné-Bissau situada na costa oeste da África, tem rios navegáveis e litoral pantanoso. É um país pobre e depende da ajuda externa. A maioria dos guineenses vive da agricultura de subsistência, enfrentando secas e doenças infecto-contagiosas. A população é formada por diferentes grupos étnicos. A elite é composta por uma minoria de descendentes de portugueses que ocupa cargos públicos. Além das crenças tribais, o islamismo desponta entre as religiões do país.
Sua história está ligada à do arquipélago de Cabo Verde, outra ex-colónia portuguesa. O domínio português começa no século XVI, quando habitantes de Cabo Verde estabeleceram uma vila à s margens do rio Cacheu. A nação é usada, então, como base para o tráfico de escravos. Ao longo dos séculos seguintes, a região foi palco de várias revoltas pela independência. Em 1956, o intelectual cabo-verdiano Amílcar Cabral funda, no exílio, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Em 1961, o PAIGC inicia guerrilhas e, em 1972, controla dois terços do país. Cabral é assassinado em 1973. No mesmo ano, os guineenses proclamam a independência, reconhecida pelo governo português em 1974. Luis Cabral - irmão de Amílcar - assume a Presidência e institui um regime de orientação marxista liderado pelo PAIGC, o único partido legal. O governo de Cabral herda um país devastado. Erros económicos do governo provocaram a escassez de alimentos. Cabral é deposto em 1980 por um golpe de Estado chefiado pelo general João Bernardo Vieira, um veterano do partido. O golpe sela a separação entre o PAIGC da Guiné-Bissau e o de Cabo Verde, abortando o processo de unificação dos dois países, que rompem relações, somente reatadas em 1982.
O processo de transição para a democracia começa em 1990, sob a influência do colapso do comunismo no Leste Europeu. Em maio de 1991, o PAIGC deixa de ser partido único. Dissidentes do partido governista formam o Partido da Renovação e do Desenvolvimento (PRD), de oposição. Como parte das reformas, a pena de morte é abolida em 1993. Apesar do clima de abertura política, o governo adia as eleições até julho de 1994. O PAIGC obtém maioria na Assembléia Nacional (62 das cem cadeiras) e Vieira elege-se presidente, vencendo com 46,29% dos votos. Manuel Saturnino da Costa (PAIGC) é indicado para primeiro-ministro. Em setembro, Guiné-Bissau dá início a conversações com o vizinho Senegal para equacionar a questão da fronteira, objeto de disputa entre ambos. O país adere, em janeiro de 1997, Ã zona franca União Económica e Monetária do Oeste Africano.
Em julho, o presidente João Bernardo Vieira visita o Brasil durante quatro dias. Os dois países assinam um acordo de cooperação técnica, outro na área de turismo e um terceiro de ampliação do número de bolsas de estudo".
Por ter lido tanto, mas tanto, como nunca lera antes em toda sua vida, nosso amigo Van sentiu-se cansado. E conforme era costume seu, não havia lugar melhor para descansar do que num bom boteco, ao lado de amigas bem-falantes e cerveja.