Tragédia em Santa Catarina não é culpa do aquecimento global
Do: G1.com.br - Alexandre Garcia
Na tragédia de Santa Catarina, se aponta como responsável o aquecimento global. Acontece que, em número de mortos, essa não foi a maior tragédia. Em mil 1974, quando não se falava em aquecimento global, uma enchente no vale do Rio Tubarão fez 199 mortos, sem contar desaparecidos.
Logo depois, a engenharia da Universidade do Sul de Santa Catarina fez um levantamento geológico da região para buscar causas para o tamanho da tragédia. Constatou que o solo é todo de aluvião. São camadas sucessivas de aluvião até 42 metros de profundidade, separadas a cada dois ou três metros por camadas que já foram superfície há milhões de anos.
O solo de aluvião, que fica em baixios e encostas de morros, é instável e permeável, formado por areia, lama e cascalho. Quando encharcado, movimenta-se com a água. O assoreamento do Porto de Itajaí é prova disso. O calado, de 12 metros, foi reduzido a cinco metros pelo aluvião trazido pelas águas.
Saber disso seria essencial para prevenir. Quem sabe, pode fazer. E quem fez? Alguém ouviu falar em tragédia em Brusque? Pois Brusque fica no mesmo Vale do Itajaí, vizinho de Itajaí e de Gaspar; o Rio Itajaí-Mirim atravessa a cidade. Em 1984, uma grande enchente engoliu o centro da cidade.
O prefeito seguinte, o técnico têxtil Ciro Marcial Roza, chamou a engenharia, que fez um canal extravasor, para receber o excedente das águas do rio. A obra foi criticada como desnecessária e apenas bonita. Pois agora a única vítima de Brusque, cidade com quase 90 mil habitantes, estava consertando o telhado, no início das chuvas, quando caiu.
As consequências da enchente ficaram muito abaixo das de 1984. Quantas vidas foram poupadas pela obra preventiva de quase 20 anos atrás? O prefeito foi eleito mais duas vezes e vai sair agora. Isso mostra que a culpa não é só do clima, mas do amadorismo e que é preciso chamar os profissionais.
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