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cronicas-->O pepino da mamãe Carolina -- 10/12/2008 - 00:41 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pepino da mamãe Carolina


Fernando Zocca


Logo após os funerais da mamãe Carolina Trame, Tendes quedou-se quebrantado. Cabisbaixo o homem deixava transparecer aquela tristeza que ganhava ares de algo mais sério: uma depressão causada pela temível bile negra.
Ele já não conversava mais tomado pela intensidade jovial com a qual os amigos tanto se acostumaram. Tristonho, carente e com muitas saudades da mãe, o pobre homem rico, naquela tarde de sexta-feira, aconchegou-se num canto do sofá e, contrariando os conselhos dos amigos, que lhe pediam para manter todas as luzes da casa acesas, eis que seria uma forma de espantar a tristeza, Tendes cobriu-se com aquele seu cobertor favorito, e pós-se a ronronar.
Então como que tomado por um passe de mágica ou algum efeito especial, viu-se ainda menino, quando de calças curtas, a mãe o arrumava para conduzí-lo ao primeiro dia de aulas do curso primário.
Tendes era um menino bastante desenvolvido para a sua idade; dentre os colegas da classe seria o maior, pois tinha a ossatura grande, e magreza notável. Não exagerava quem dissesse poder contar-lhe os ossos, naquele estado, daqueles tempos.
Então a mãe segurando-lhe o queixo com a mão esquerda, penteava-lhe os cabelos com a direita, passando-lhe com tal força o pente no cocoruto, que o obrigava a demonstrar seu desprazer, fazendo caretas de desagrado.
Dormindo no sofá recém adquirido, com aquelas verbas especiais obtidas por manobras espertíssimas no Ministério, Tendes póde sentir o zunido de um mosquito que lhe pairava sobre o nariz, talvez em reide de reconhecimento.
Quando aquele ser alado minúsculo fez um vóo rasante sobre o ouvido esquerdo do homem ali deitado, provocou nele uma reação consistente na elevação da mão esquerda deixando-a cair, com alguma força, no trajeto percorrido por aquela coisa chata. Afinal, o espaço aéreo acima das orelhas grandes e peludas, pertenciam a ele, o homem que dormia.
O tabefe não tirou do combate o voador. Mas afastou-o por alguns momentos. E foi então que Tendes sentiu seu sonho prosseguir.
A mamãe Carolina, falava com aquela voz suave de quem desejava manter confortável o fihinho, que por nunca ter vivenciado uma situação daquelas, sentia-se estressado.
- Você vai com mamãe. Nós estaremos juntos na classe. Vou dizer para todos que você é meu filho e verás então que todos gostarão de você. Não precisa ficar assim nervoso. Olha, dê um laço no amarrilho do sapato, se não, tropeçando, poderás cair.
Então chegando a hora, mamãe e filhinho, cada qual com seus petrechos, puseram-se a caminhar em direção ao mais famoso e tradicional Grupo Escolar Barão do Riacho Brando de Tupinambicas das Linhas.
A dupla não caminhou muito, pois residiam nas imediações da escola. Ao se aproximarem da porta de entrada, Tendes ouviu o burburinho que vinha lá de dentro. Era uma zoada que lhe provocou um certo receio. Sentindo a mão da mãe que o segurava com firmeza, não conseguiu conter os puxões que ela lhe dava.
Entraram naquele ambiente muito grande, frio, escuro, onde o vento soprava forte. Eles pararam no meio do caminho que percorriam no corredor central.
Uma dupla de mulheres joviais se aproximou e desfazendo-se em salamaleques, tomaram o garoto conduzindo-o ao pátio. Ali uma balbúrdia assustadora emanava da concentração de centenas de crianças agitadas.
Quando Tendes percebeu que a mulher se afastaria, soltando-lhe a mão, ensaiou um choro de medo, mas conteve-se quando viu a feição de censura da olhuda. Então, de repente, ali estava ele, sozinho, no meio daquele auê estonteante, perto de um tanque d´água do qual sobressaia uma torneira proeminente.
Tendes notou que as crianças que corriam gritando no pátio, paravam ali de vez em quando, e sem pejo de que aquela água era de torneira, sem filtragem, saciavam assim mesmo a sede.
Tandes acordou sentindo vontade de fazer xixi. Quando voltou para o sofá, notou o pernilongo pousado na parede, talvez aguardando a melhor oportunidade para, pousando no território inimigo, sugar-lhe algum alimento.
Então andando pé ante pé o homenzarrão, com a mão direita espalmada, aproximou-se do zumbidor e, com um golpe que estalou na perede, esborrachou-o inapelavelmente.
Feito um zumbi voltou Tendes para os panos aconchegantes do seu sofá preferido. Ele só acordou novamente depois do sonho no qual o servente, que controlava as crianças afoitas no pátio da escola, o sacudia pelos ombros dizendo-lhe:
- Presta atenção menino! Parece que não sei! Eu já disse e você sabe: eu não quero mais pepino, nem do grosso, nem do fino. Morou, ou quer que eu desenhe?
Aborrecido, Tendes lembrou-se que tinha de marcar a missa de sétimo dia do passamento da mamãe Carolina.
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