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Cronicas-->Atrasado -- 05/03/2001 - 21:36 (Maria Antonieta Figueiredo Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ATRASADO


Toda família tem um exemplar. Pelo menos um.
Desde pequeno é o último a acordar, o último a se vestir. Sempre sem pressa, na maior calma.
Geralmente são bem-humorados, cantam no banheiro, acabam com a água quente da casa nos banhos sem fim. O banheiro é um dos territórios que o atrasado ocupa. A família até pensa em pedir reintegração de posse do aposento. Um banquinho com jornais, revistas de motos, futebol, manuais de instrução de aparelhos complicados que não serão instalados enquanto todos os ítens não forem devidamente estudados. Não adianta bater na porta. Em casos de emergência todos correm para o lavabo.
São detalhistas. A pasta de dente tem que ser apertadinha e enrolada. A escova guardada no mesmo lugar e de preferência separada das outras da casa. Escovar os dentes é uma longa tarefa: os dentes de cima, os de baixo seguindo rigorosamente as explicações dos dentistas com direito a mais uns minutinhos de fio dental.
A escolha da roupa também exige um ritual. As roupas de ficar em casa, à vontade, são aquelas bem, mas bem velhinhas. Uma bermuda dos tempos da adolescência já desbotada, o elástico mole. A camiseta com alguns furos, vários deles em lugares que não tem como disfarçar. Um moletom também desbotado e todo torto de tanto lavar. São só pequenos detalhes. O mais importante é que essas roupas preciosas não podem ser doadas. Nem um mendigo aceitaria!

Os problemas com horário começam bem cedo, da vida, não do dia.
Eles escolhem a hora para mamar, para dormir, sempre sem pressa.
Crescem também devagar. Comem devagar. E são os últimos a sentar à mesa. Aprendem a comer comida fria, até gostam.

Marcar hora com os amigos ou namorada (ou namorado) requer uma estratégia aprendida a duras penas: horário especial. E especial quer dizer umas duas horas antes do horário marcado para o resto da turma ou do programa. O atrasado pode não acreditar que um jantar ou uma festa comece as 7 hs da noite. Seja firme. Esconda o convite, o jornal. Disso depende perder os aperitivos, ver a entrada da noiva no casamento, assistir o assassinato do começo do filme... Você também se acostuma a ver o filme da metade até o fim e na sessão seguinte, o começo. É uma questão de gosto. Ou de sobrevivência.

Todos vão se adaptando aos horários do atrasado. Perder a primeira aula do colégio, o primeiro tempo do jogo de futebol, as velinhas do bolo de aniversário do pai, do irmão, da avó, já depois do parabéns. Os filhos sabem que o pai (ou a mãe) nunca verá sua apresentação de música, sua quadrilha da Festa Junina, sua competição de natação...

As viagens, mesmo as mais curtas, podem se transformar numa "volta ao mundo" para a família. O tempo para a arrumação das malas no carro, trancar a casa, ou um último pipi, pode variar de duas a três horas. Ninguém reclama. Uma reclamação pode representar meia hora de discussão. Não vale a pena. A lei de sobrevivência ensina a família a ser cada vez mais "zen". Dá para assistir um filme inteiro, ler o jornal do domingo que ficou guardado, fazer as compras do supermercado. Com direito a fila no caixa e tudo. Entrar na Internet e responder todas as mensagens da semana inclusive encaminhar aquelas correntes intermináveis de monges do Nepal que você tem que passar para dez pessoas para não atrasar sua vida...

Acho que falei tudo. Não, faltou o mais importante: o atrasado é sempre carinhoso, ajuda todo mundo, paga as contas em dia. E todos da família sabem que podem contar com ele "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença". Ele pode chegar atrasado, mas chega de coração aberto, uma qualidade que não tem preço nem hora.




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