Narciso (*)
Conta a lenda que Narciso, um jovem de beleza extraordinária, todos os dias ia contemplar sua imagem nas águas calmas de um lago.
Era tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar de onde caiu, nasceu uma flor, a que mais tarde chamaram narciso.
Quando Narciso morreu, vieram as Oréiades, deusas dos bosques, e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num càntaro de lágrimas salgadas.
- Por que você chora? perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso, respondeu o lago.
- Ah, não nos surpreende que você chore por Narciso, continuaram elas.
- Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
- Mas Narciso era belo? surpreendeu-se o lago.
- Quem melhor do que você poderia saber disso? responderam, espantadas as Oréiades.
- Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago permaneceu em silêncio por algum tempo. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas jamais notei que Narciso era Belo. Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, minha própria beleza refletida.
Oscar Wilde
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(*) Brasília, DF, 16/12/2008. Nesta data, recebido, por e-mail, de Vera Frazão.
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