Em um ônibus intermunicipal, na periferia de São Paulo, em pé, observo os demais passageiros, confortavelmente sentados. Seis pessoas aproveitam seu tempo, provavelmente a caminho de seus lares, após uma fatigante jornada de trabalho, lendo livros. Poderão perguntar, o que isto tem demais. Minha visão otimista da vida diz que esse é um sinal de que estamos mudando. O nosso povo vem percebendo, aos poucos, que informação, além da telenovela e do futebol, dá prazer e aprimora a existência.
Alguém me questionou, certa vez, como fazer para que seu filho adolescente despertasse interesse por literatura. A princípio não soube responder. Ao contrário, lembrei uma maneira eficaz de fazer um jovem perder o interesse na área. Basta agir como uma boa parte dos estabelecimentos de ensino. Obrigue alguém de quinze anos, que nunca foi além dos gibis, a enfiar goela abaixo, quatrocentas páginas de um clássico da nossa literatura. É tiro e queda. Após a frustração, quase certa, de não passar da décima página, procurará ficar um bom tempo afastado desta atividade. Isto ocorreu comigo!
Adquiri o hábito da leitura com vinte e cinco anos de idade. Faz tempo! E foi tarde! Anteriormente, só quando obrigado e torturado. Torturado é exagero, admito.
Além do exemplo de meu pai, lembro de que meu maior incentivador foi o apresentador Jô Soares, ainda no SBT. Ele falava do hábito da leitura como algo sublime e prazeroso. Atingido subliminarmente, resolvi aceitar o desafio. Lembro, na época, ter lido o Alquimista, de Paulo Coelho, em apenas um dia. Muitos podem questionar o valor literário de suas obras. Mas, e daí? Seu conteúdo influencia meus passos até hoje e, além de tudo, passei a ler com freqüência outros gêneros. Virei um rato de sebos e precisarei de cinco encarnações para dar conta de tudo o que comprei compulsivamente.
Por ironia do destino, esse artigo está sendo publicado no mesmo veículo onde estão alguns contos do autor que um dia me disse que “nada é por acaso”. O Universo conspirou a meu favor.
Quanto à resposta ao pai do adolescente. Deixe seu filho ler o que gosta, iniciar pelo assunto que mais o interessar. Compre, ou melhor, deixe que ele mesmo tenha o indescritível prazer de escolher e adquirir um livro. A história do seu esporte preferido ou a biografia do ídolo de rock. Costuma funcionar. Viva Harry Potter! Viva O Sítio do Pica Pau Amarelo!
Aqui, citei livros, mas, em minha humilde opinião, qualquer acesso à comunicação é relevante. Revistas, jornais, quadrinhos, Internet, televisão aberta ou a cabo, rádio, cinema, teatro, shows musicais, exposições de arte, uma conversa com amigos, tudo, na dose certa, é informação.
Precisamos de educação, escolas fundamentais bem estruturadas, ensino médio competente e universidades em quantidade e de qualidade, responsáveis pelo espírito crítico essencial a uma nação democrática. Assim, o que for de má qualidade será naturalmente descartado. Somente a fome por conhecimento é necessária. A outra, tem de ser zero, e logo!
Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
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