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Contos-->Sonho de pobre rapaz -- 07/07/2001 - 15:01 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O destino pode mudar com o vento. Nada é tão planejado assim. Certo, inatingível como eles parecem dizer...” Coincidências e Paixões – O Rappa

Ele tinha um violão e sonhava em, um dia, ser alguém famoso e conquistar a menina do coração, não só dele, mas também de muitos outros garotos ali do pé do morro. Vestido com os trajes da velha guarda do samba e com o instrumento na mão, seguia o rapaz sonhador.
Descia as escadarias nos fins de semana para tocar num butiquim. Muito samba, alegria e cerveja gelada. Esse era o lema. Contrariava os jargões sobre a violência da favela, preferia fazer belas rimas de amor. Embalar os amigos e o coração da amada com a felicidade da vida.
Ela era uma garota negra, destaque do abre-alas, filha da costureira, de belas pernas, balconista da venda, de lábios grossos... safada que só. Diziam as más línguas que deu para um traficante é o cu fazer bico. Sempre gostou de homens poderosos e o pobre rapaz do samba, o malandro à moda antiga só tinha poder da porta do butiquim para dentro e mais nada.
Apesar das horas acompanhado somente pela vela, o caderno e a caneta, suas composições não passavam de frases para alegrar bêbados deprimidos. O toque charmoso do seu violão era apenas um pingo de felicidade em corações tristes. Sonhava em ser mestre de cerimônia da escola de samba do morro e ver toda a avenida cantar suas juras de amor.
Na Sexta-feira ela deu as caras lá no pagode do butiquim. Ele não perdeu tempo e já dedicando sua canção favorita à moça. Ela sambava feito uma doida e enlouquecia também os bêbados que ainda enxergavam alguma coisa. Todos os olhos dançavam no ritmo daquela mini-saia amarela.
No fim da noite, depois do último copo de cerveja, com o violão sobre o ombro esquerdo lançou um olhar de despedida para a amada que sorria distraída. Baixou a cabeça e caminhou favela à cima.
Sentado na porta de casa, lembrou do seu samba nos pés da mulata. E olhando para a cidade que brilhava lá em baixo pensou em desistir deste amor platônico. Combinando algumas notas em seu violão, percebeu que tudo o que há de belo possuí uma harmonia. É isso! Ele pensou. Mas eles não tinham nada de harmonioso, de poético... a única coisa que tinham de semelhança era o branco dos olhos e serem do mesmo planeta.
O dia já brilhava, as lavadeiras já transitavam com seus baldes na cabeça, as donas de casa com o pão na mão, buzinas vindas lá de baixo, a molecada já gritava e corria atrás das pipas. Talvez seja essa a solução: as pipas. Ela gostaria de poder e riqueza, pois é ela terá! Pensou ele abrindo um sorriso e alegrando o tom do violão.
Sempre soube aproveitar a inteligência que Deus lhe deu. Não seria difícil crescer dentro do morro. Falou com o patrão, pediu para começar a trabalhar com as pipas. Sabia da responsabilidade que assumira. Você sabe o que acontece com os irresponsáveis, não sabe? Sim, ele sabia. Mas também conhecia o patrão desde quando eram crianças e soltavam bombinhas nos canos da casa do açougueiro.
Agora sim, o amor deixava de ser sonho. Declarou todos os seus sentimentos para a bela mulata, gravou uma fita num radinho velho só com músicas feitas para ela, contou do novo trabalho e fez promessas de riqueza. Pela primeira vez, ele viu os olhos dela brilharem. Ela sorria, lançando uma expressão dominadora sobre ele, demonstrava interesse passando a língua sobre os dentes.
A função era simples, levantar as pipas ao céu quando avistar a polícia no pé do morro. Ele fez até uma exigência ao antigo amigo que foi recebida com um leve sorriso. Não trabalharia às Sextas e Sábados, pois já tinha a função no butiquim. Tudo bem, mas... Ué, preto! Não confia mais em mim!? Deu um abraço no patrão e saiu.
O butiquim continuou durante meses com os mesmos bêbados. A diferença estava na troca de olhares entre o rapaz do violão e a mulata sambista. O dinheiro multiplicava com o serviço das pipas, os dois estavam cada vez mais próximos, já dormiam e passeavam juntos.
Foi numa Quinta-feira, aniversário de seis meses juntos. Vestido sempre como a velha guarda do samba, os malandros de verdade, saiu de casa com o chapéu na mão, passou a ponta dos dedos no cabelo ainda molhado. De pouco em pouco, a noite levava a luz do dia. Ela estava mais maravilhosa do que nunca. Um vestido comprido e maquiagem.
Ele queria ir à um restaurante chique e demonstrar todo o seu romantismo. Dinheiro já não era problema. Caminhavam de mãos dadas guiados pela luz da lua. Na saída da favela, os dois sorriam ao conversarem. E nem, sequer, notaram a presença das viaturas da polícia. Naquele dia as pipas não subiram.
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