O REI DOS ANIMAIS...
Nunca alguém me contou,
Quando eu era garoto,
A verdadeira história do leão...
Estou mesmo agora a imaginá-lo,
Imponente, de olhar luminoso,
Emoldurado na juba eriçada...
E ronca, ronca impetuoso,
Cabeça erguida a todos os arcanos,
Pleno da força que emerge da terra...
Pela primeira vez o fogo do cio
Inunda-o de lés a lés,
E a leoa aninha-se como pluma...
Horas e horas a fio
Os deuses descem deliciosos
Por toda a carne partilhada...
A misteriosa energia da vida
Funde-se na invisibilidade dos astros
Enquanto as estrelas catrapiscam...
A leoa soergue-se, ronca ao céu
E parte à caça de uma zebra
Para celebrar com sangue o enlace...
Repetem-se assim os anos
Entre o declínio dos cios
E a inquietação do ser-sem-ser...
Afinal, em raciocínio, a razão
Porque a leoa caça e serve
O eleito rei dos animais...
Que pena os leões
Não escreverem versos
Para argumentar que não é assim...
António Torre da Guia |