Tenho quinze anos, está chovendo e não posso ouvir minhas músicas preferidas. O chato do meu irmão gravou uma música e a está ouvindo há horas. Já pedi para trocar, para desligar um pouco e nada. Ontem foi a mesma coisa. Só ouve essa tal de "imagine". Nem sei o que o cantor quer dizer. Não sei traduzir. Até que tem um ritmo bom, uma melodia envolvente. É de um tal de John Lennon, um cara que já morreu faz anos. Nem sei quem é.
Sabe, que de tanto ouvir estou gostando. É uma bela música. O meu irmão saiu, mas vou voltar a toca-la, quem sabe consigo entende-la.
Hoje estive em várias lojas de CD procurando por um CD do John Lennon e não encontrei. Na última fiquei furiosa com a mulher. Ela riu de mim quando eu disse que não sabia que ele era de uma banda chamada Beatles. Como vou saber de coisas que aconteceram há tanto tempo? Ela queria que eu trouxesse um CD deles, mas estava tão caro! Ela falou deles com uma paixão! Disse que eles foram muito famosos, que na sua juventude comprava tudo o que saía sobre eles, que os jovens do mundo inteiro ficaram ligados neles. Fiquei curiosa.
Na biblioteca, vi várias revistas e jornais antigos. Na foto, os Beatles, estão bem bonitinhos, só os cabelos me parecem engraçados. Adorei as roupas coloridas. O John Lennon está o máximo com uns óculos enormes e capacete na cabeça. O Paul McCartney tem um rosto lindo.
Voltei à biblioteca. Meu Deus, eu queria ter vivido naquela época. Que coisa mais louca! Folheando aquelas páginas voltei no tempo. Gritei enlouquecida quando eles saíram do estúdio de gravação. Corri atrás deles, junto com centenas de outros fãs. Só não os alcancei porque enrosquei o pé no meu vestido indiano. A faixa na minha testa caiu nos meus olhos. Levantei e fiz paz e amor para o John, acho que ele não viu, mas eu vi seu sorriso. Valeu a pena. Estive também no Central Park quando eles estiveram em Nova Iorque. Paz e amor, bicho! Não ouvi as músicas. Deve ser porque não conheço as músicas deles ainda. Vou comprar um CD.
Hoje ouvi Yesterday. Que melodia! Que música! Minha amiga e eu traduzimos. Traduzimos também Imagine. Estou apaixonada. Nunca ouvi nada tão lindo.
Comprei Help. A faixa número 13 é Yesterday. Ouvi durante a tarde inteira. As imagens e as cores das revistas que vi me envolveram e estive com eles de novo. Liverpool. Vi os quatro atravessando a rua. Até toquei a roupa do Paul! Manero! Ele olhou para mim e sorriu! Acho que nem vou dormir hoje. Roubei da biblioteca uma página de revista que tem uma foto grande e colorida deles. Vou fazer um álbum. Vou recolher tudo sobre eles. Aos poucos vou saber tudo sobre os Beatles.
Puxa! O John disse que os Beatles são mais populares que Jesus Cristo. Ele é muito dez. E o protesto pelado na cama? Que coisa! Saiu em todos os jornais. Ele e a Yoko pelados. Aliás, não gostei da Yoko. Dizem que foi por causa dela que o grupo se desfez. Amanhã vou ver Help. Faz dois anos que encontrei os Beatles e os amo cada dia mais.
Estou muito triste. O John morreu faz tanto tempo. Eu nem havia nascido. Não há chance dos Beatles voltarem a se reunir.
Compro todos os CDs deles. Assim, estou sempre com eles. Vivo as aventuras de uma banda eterna, que mantém o mesmo encanto que contagiou os jovens dos anos 60.
Sou sim, em pleno ano 2001, uma Beatlemaníaca!
"You may say I´m a dreammer, but I´m not only one."
Parodiando o John: "Você pode dizer que eu sou uma sonhadora, mas não sou a única."
História de Adriele Leal de Oliveira escrita por Izabel da Rosa Correa e que recebeu como prêmio
do Jornal A Gazeta do Povo de Curitiba o livro Anthology (uma coletànea produzida na Inglaterra
que mostra a trajetória dos Beatles).
