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Cronicas-->Sem confete, nem fantasia -- 06/03/2001 - 07:36 (MICS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Carnaval bom é aquele que passei: sem festa nem fantasia.
Depois de seis horas de viagem - quatro de carro e duas de barco - chegamos ao paraiso. Resolvi que tenho que dar um nome àquele canto que chamo de meu. Uma amiga me falou uma vez como era importante olhar para cima, do meio de seu jardim e lembrar que todo aquele pedaço de céu lhe pertencia. Gosto de pensar que meu céu é comunitário, resquícios de uma alma revolucionária talvez.
Sem luz, nem televisão, com a tecnologia mínima indispensável como a placa geradora de energia solar e com um sol que fez as honras da casa durante os quatro dias, nem me lembrei que estava alí devido ao carnaval. Essa data há muito é apenas isso: uma data. Um nome praqueles dias de folga que marcam o início de tudo no Brasil. Já perceberam que o ano só começa de fato depois do carnaval?
Talvez seja uma condição genética essa necessidade de hibernar até o carnaval chegar, como a dos ursos polares.
Enfim, sorte minha que pude passar mais uns dias no paraiso antes de me deixar levar pelas agrúras da vida terrena durante o resto do ano.
Na volta, pela primeira vez em muitas não pegamos um mega congestionamento. Resolvemos subir a serra pela estrada que liga Cunha a Paraty. Demoramos um pouco mais do que o normal porque 12 kilometros, justamente na parte mais íngreme, estão sem asfalto. Coisas do Ibama que acha que assim consegue impedir a exploração informal do palmito e a ocupação desenfreada das terras ao longo da rodovia. O que não adianta nada diga-se de passagem pois é o que acontece de qualquer maneira por que o povo precisa inventar formas de ganhar mais dinheiro e essa é uma das melhores, ao menos naquela região.
Quem não para para comprar uma bananinha ouro quando as vê reluzindo na beira da estrada em cachos dependurados em atraentes barraquinhas de bambú? Eu não, mas vejo que muitos param a julgar pela quantidade de cascas ao longo do acostamento.
Paramos duas vezes durante a viagem. Minto, três. Na primeira, fomos obrigados a esperar enquanto uma fila de uns 15 carros tentava superar os primeiros 200 metros do trecho de terra. Algum órgão responsável colocou cascalho, toneladas de cascalho solto nesse pedacinho o que fazia os carros derraparem e jogarem pedras pra todo lado. Quando foi nossa vez de passar fiquei na beira da estrada acompanhando as manobras (cada carro precisava de um empurrãozinho diferente) e recebi uma advertência:
- Mãe, cuidado com as pedras que voam. Não fique tão na beirada.
Senti uma certa estranheza com a inversão de papéis.
Seguindo viagem paramos mais duas vezes, uma para tomar um banho numa das inúmeras cachoeiras - e é claro que escolhemos a menos visitada - e outra para comer "tudo da roça" num estabelecimento de mesmo nome. Digo estabelecimento porque desde aquela hora me ficou uma dúvida sobre o nome que se dá a esse tipo de loja. Não é uma loja pois serve lanche. Não é uma lanchonete pois vende uma variedade enorme de produtos. Também não é um mercado. Talvez devesse se chamar "boutique de alimentos" já que boutique nada mais é que loja em francês mas dito assim, fica mais refinado, mais sofisticado, bem de acordo com a tal da lojinha que alimenta tanto os olhos quanto o estómago.
Fico me perguntando se só eu tenho essas questões supérfluo-existencialistas.
Por fim, sorte minha que pude fugir tão completamente do carnaval neste ano. Bem, não tão completamente pois no finzinho da viagem, já na marginal tietê, inventei de ligar o rádio e escutei sobre as cento e tantas mortes ocorridas no período. Fosse um trem descarrilhado e seria notícia de capa mas é somente mais um carnaval, é a vida se impondo sem confete nem fantasia.
Mirinha
fev, 2001
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