Usina de Letras
Usina de Letras
163 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62186 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50586)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Delícias do mineirês (*) -- 10/01/2009 - 22:33 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Delícias do mineirês (*)


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar...


Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?


Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: `ouvi-la faz mal à saúde`. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: `só isso?`.
Assino, achando que ela me faz um favor.


Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.



Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho. Não dizem: pode parar, dizem: `pó parar` Não dizem: onde eu estou?, dizem: `onde queu tó.`


Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - linguisticamente falando - apenas de uais, trens e sós.



Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornó.


Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido...


Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: `cê tá boa?` Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário...


Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, só (leia-se: sai dessa, é fria, etc)
O verbo `mexer`, para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.


Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sócê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: `- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, só.`


Esse `aqui` é outra delícia que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer `olá, me escutem, por favor`. É a última instància antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.


Mineiras não dizem `apaixonado por`. Dizem, sabe-se lá por que,`apaixonado com`.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: `Ah, eu apaixonei com ele...`
Ou: `sou doida com ele` (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).


Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com
todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.


Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - `Eu preciso de ir..`

Onde os mineiros arrumaram esse `de`, aí no meio, é uma boa pergunta... Só não me perguntem!
Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.


No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente.
Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!


Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena,suspirará:
`- Ai, gente, que dó.`


É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras... Não vem caçar confusão pro meu lado! Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro `caça confusão`.


Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele `vive caçando confusão`.


Ah, e tem o `Capaz...`
Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: `capaz` !!! Vocês já ouviram esse `capaz`?
É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer `ce acha que eu faço isso`!? com algumas toneladas de
ironia.. Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: `ó dó dócê`. Entendeu? Não? Deixa para lá.


É parecido com o `nem...` . Já ouviu o `nem...`?
Completo ele fica: `- Ah, nem...` O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou
não fará o que você propós de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum.


Você diz: `Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?`.
Resposta: `nem...`
Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?



Preciso confessar algo: minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.


Se você, em conversa, falar: `Ah, fui lá comprar umas coisas...`...
- Que` s coisa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o `que`!


Ouvi de uma menina culta um `pelas metade`, no lugar de `pela metade`.
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:
- Ele pós a culpa `ni mim`.


A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas...
Ontem, uma senhora docemente me consolou: `preocupa não, bobo!`.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras. nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: `não se preocupe`, ou algo assim.
Fórmula mineira é sintética. e diz tudo.


Até o tchau, em Minas, é personalizado. Ninguém diz tchau, pura e simplesmente.
Aqui se diz: `tchau pro cê`, `tchau pro cês`.
É útil deixar claro o destinatário do tchau...


______
(*) Brasília, DF, 10/01/2009. Recebido nesta data, por e-mail, de Marcos Noronha, intelectual e amigo das letras.








Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui