Usina de Letras
Usina de Letras
271 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50484)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6164)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Crepúsculo de uma tradição vital -- 26/01/2009 - 16:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

CREPÚSCULO DE UMA TRADIÇÃO VITAL

Paulo Ricardo da Rocha Paiva (*)

Já houve um tempo em que: o concludente do curso de oficial, egresso de nossas escolas militares, era chamado de alferes; as unidades de armas básicas, com maior mobilidade, eram denominadas ligeiras e como era marcial a saudação sem o capacete, boina ou quepe: se em deslocamento, apenas o choque decidido do coturno, no pé esquerdo, acompanhado do girar enérgico da cabeça descoberta para o local em que estivesse o superior hierárquico; se parado, tão somente o giro já explicitado.

A digressão formalística é fundamental para a questão polêmica: onde está hoje a marca da personalidade herdada de nossas tradicionais origens marciais? Ao longo do tempo, muito se copiou como se tudo estivesse dominado. Americanismos sem conta, até a cadência está mais inibida, como se o solado das botas fosse de camurça, cópia imperfeita do "irmão" do norte, imitações sem pé nem cabeça que não fazem jus ao legado de autenticidade, herdado dos usos e costumes de um passado soberbo vivido pelo Duque de Caxias e pelo Marques de Herval.

Como esses velhos "cabos de guerra", e tantos outros, todos de reconhecido sentimento de brasilidade, se sentiriam hoje vendo o rol de quinquilharias que, no período republicano, se copiou de modelos estrangeiros? Até postos de hierarquia mais elevados foram importados, substituindo formas antológicas como: brigadeiro, marechal de campo e tenente general, que dizem muito mais das nossas raízes do que o plágio puro e simples de forças armadas que não têm nada a ver com o espírito forjado nos duros combates em Guararapes. Que o diga o bravo Brigadeiro António de Sampaio, Patrono da Infantaria!

Resgatar, valorizar o "caseiro", abrasileirar, por que não, o que já foi brasileiro? O gesto alienígena, sem cobertura, não seria mais lógica sua previsão em regulamento, tão somente, para responder ou saudar militares estrangeiros que o adotam? Agora, da forma como está incorporado, paradigma de continência e sinal de respeito de um belo costume, que remonta a tempo antigo de militàncias que só nos dizem respeito, está sendo tiranicamente relegado, o mesmo se dando com: a cadência, que despersonalizou; a nomenclatura de alguns postos, que perdeu em originalidade; a denominação "leve" que, traduzida ao pé da letra, substituiu forma até então consagrada para tipificar corpos de equipamento/armamento aliviado.

As tradições que distinguem nossas Forças Armadas constituem o último baluarte de resistência ao seu, já de longa data, desmanche material Com certeza, ao nosso soldado desaparelhado, será vital o esteio de referências genuínas para superar a humilhação, por um ou mais reveses, em diversificados campos de batalha. Sim, porque as ameaças aí estão. A Amazónia, hoje pulverizada por reservas indígenas, verdadeiros "kosovos nacionais", ricas em "recursos vitais para a humanidade", certamente comporá o palco da luta. Neste cenário vai pesar, como nunca, a virtude de uma memória autêntica, talvez a mais significativa reserva moral de um povo.

Na guerra de resistência, marcada pelo desgaste e de longa duração, serão as pequenas porém não menos significativas coisas da tradição que irão alimentar o espírito de nossa população, esta descendente atávica dos heróis das lutas contra os holandeses que, novamente com a guerrilha, será conduzida a enfrentar um inimigo, mais uma vez, muito melhor armado e equipado, agora integrante de uma"coalizão de soldados universais", tudo graças ao amadorismo e à falta de visão estratégica que caracterizaram os últimos governos deste País.


(*) Coronel de Infantaria e Estado-Maior

Artigo publicado no jornal O Sul, em 14/01/2009.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui