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Artigos-->Reféns e comboieiros -- 28/04/2003 - 02:09 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Visão holística. Eu sei, tu sabes, ele sabe, nós sabemos... Todo mundo sabe! E só. Sabemos - também - que o líder dos Thundercats tem visão além do alcance e que os soldados americanos que arrasaram Bagdá têm óculos de visão noturna. Somos mesmos muito bons. Sabemos muitas coisas! Não as possuímos, é verdade, mas sabemos. E, ora, estamos sob o jugo da sociedade da informação, onde a grande máxima é: quem sabe sabe! Ou não?



Claro que não! Ao contrário do que as evidências indicam e também do que bradam os grandes vendedores de informação, aquilo que sabemos tem cada vez menos importância. Verdade! Pois, a menos que façamos parte do crescente grupo dos que por exclusões sociais, econômicas ou culturais, não têm acesso às mesmas informações que nós; a menos que nos isolemos ao ponto de não escutarmos as notícias que nos chegam em profusão; ou, finalmente, a menos que tenhamos tão pouco interesse acerca daquilo que nos rodeia, estamos todos expostos aos mesmos saberes. Portanto, não é difícil acolher a idéia de que o conhecimento que ostentamos com tanta empáfia em nada nos diferencia ou favorece, mas, antes, e na melhor das hipóteses, apenas nos iguala.



Não é bem assim? Vejamos...



Já que os cowboys de Bush foram citados há pouco, vamos dar um passeio virtual no deserto iraquiano. Viajar um pouco no tempo e um pouco mais no espaço. Lá, sobre as dunas resfriadas pela escuridão seca da noite, um comboio da coalizão segue rumo ao petróleo. Já passa das três da madrugada e a marcha é rápida. A lua, com sua luz débil e fria, é incapaz de fazer luzir a blindagem camuflada dos tanques que, ocultos, avançam.



A menos de dois quilômetros dali, duas centenas de soldados da Guarda Republicana pressentem com os ouvidos a chegada do inimigo. De dez ou doze casamatas saem os guerreiros - uns rápida outros atabalhoadamente - e tomam suas posições.



A iminência de um ataque faz de seus corpos um arremedo. No coração de cada homem, sentimentos diversos: amor à pátria, a Alá, a um punhado de moedas, à raiz ferida. Mas na mente de todos eles, uma certeza única: a superioridade inimiga.



- Eles vêem no escuro! - Dizem conscientes.



- Eles têm fuzis A4! - Sabem também.



Nesta altura, tão próximos que estamos deste encontro sinistro, lhes ofereço a oportunidade de colorir o restante dos fatos. Contudo, seja com a rubra cor do sangue derramado pela honra, ou com a palidez clara, branca, da entrega sem luta, não há como fugir da verdade: apesar do que sabiam os iraquianos, o comboio seguiu.



E por que isso? Fácil! Porque enquanto uns apenas sabiam, os outros eram capazes!



Em nenhum momento da história humana o conhecimento foi mais importante que a capacidade. Naturalmente, há de se presumir que quem mais conhece, ou ainda, quem mais sabe, acaba se fazendo - e a expressão correta é mesmo esta, se fazendo - mais capaz.



Essa relação linear entre o conhecer e o ser capaz é quase uma obviedade já respirada por todos e que, portanto, não mereceria sequer um comentário, não fossem as seqüelas da hiper valorização que tem sido dada ao acúmulo de informações.



Estamos nos tornando verdadeiras enciclopédias! Meras, paranóicas, imóveis e, claro!, incompletas. Na louca ansiedade por encher de informações as nossas páginas, já não nos ocupamos com outra coisa além disso. Temos que correr, temos que correr! Desenvolvimento? Capacitação? Não há tempo para isso! - Patética semelhança com o coelho branco da fantástica aventura de Lewis Carroll (Alice no país das maravilhas): “Preciso correr, já vou atrasado...”



Nitidamente está havendo uma confusão entre conceitos. Quem sabe não é necessariamente capaz! Ora, eu sei que é importante falar inglês fluentemente, porém, não sou capaz de ir muito além que um what time is it. Todos sabem que é fundamental ter um bom nível de conhecimento em informática, só que muitos sequer são capazes de enviar um e-mail. - Pior: alguns não querem nem mesmo investir algum tempo para aprender!



Numa competição de tiro-ao-alvo, por exemplo. Todos os atiradores vêem com perfeição o ponto negro onde deverão acertar os seus projeteis. - Eles sabem! E nem por isso é plausível presumir que haverá um grande empate. Não há dúvida de que um deles acertará mais que os outros. Ganhará, portanto, o que for mais capaz! Então eu lhes pergunto: não seria essa verdade também válida para nós que lidamos com outros tipos de alvos?



Precisamos, eu sei, buscar o equilíbrio. Sei ainda que conhecimento é importante, sim, mas capacidade é ainda mais. Saber onde está o alvo é fundamental e todo o mundo sabe - repito: todo o mundo sabe (estamos na era na informação, estão lembrados?) -, porém, ser capaz de acertar bem no seu miolo, ah!, isso é privilégio de poucos.



Não podemos perder de vista, meus caros, que o conhecimento é público, enquanto a capacidade é individual. É ela, portanto, o que nos diferencia. E é do quinhão que dela possuímos que depende a posição que ocuparemos no futuro: se comboieiros, geradores de conhecimento, ou se seus reféns, repetidores daquilo que não fomos capazes de criar.

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