Usina de Letras
Usina de Letras
124 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62164 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22530)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20027)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4753)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->TRADIÇÃO DA CHIBATA -- 09/02/2009 - 17:18 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Mineirinho de Montes Claros foi trabalhar numa carvoeira em Tremedal, nas proximidades de Berizal, Divisa Alegre, Curral de Dentro, Cordeiros e São João do Paraíso. Todas estas cidades são muito próximas umas das outras, mas Tremedal é Bahia, as demais pertencem a Minas Gerais. Lá o mineiro conheceu o carrasco em seu duplo sentido: o tipo de solo predominante na região e o algoz.

Morando a pouco mais de 300 Km do vizinho estado da Bahia, Jurandir mineiro não conhecia as tradições baianas e viu-se encurralado no Curral de Dentro. Feito um Cordeiro, sofreu no Paraíso , quando acompanhava um enterro baiano em Tremedal. Naquele dia, foi triste a Divisa Alegre de Minas com a Bahia. Mineirinho forte tremeu de fraqueza em Tremedal – nunca tinha apanhado tanto de chibata.

O cortejo seguia a pé e depois de andar bom pedaço de légua, alguém gritou: “PESOU!” Sem saber de que se tratava, mineirinho respondeu lá do fundo: “Pesou...” O cortejo parou. Os carregadores de caixão largaram o esquife na beira da estrada. As pessoas mais próximas passaram um rabo de olho em mineirinho. Aquele olhar de repreensão foi um aviso: “você disse besteira!”

Curioso, mineirinho adiantou-se esgueirando-se entre a multidão, para sondar o que havia acontecido, viu homens de todas as idades chicoteando o caixão. Ele não se controlou ao deparar-se com a cena e riu escandalosamente. Sem demora, desceram-lhe o relho por todos os lados: nas costas, nas pernas... só via braço subir e chicote descer. Não teve outro jeito senão, embrenhar-se no carrasco. Na hora, não sentiu dor. Só mais tarde percebeu que lhe haviam arrancado algumas tiras de couro do lombo.

A noite não tardou a chegar. Escondida na mata de eucalipto também estava uma onça que, vez por outra esturrava. Ele pensava nos filhos: três filhos para criar. Lembrou-se da mãe falecida: ela sabia reza para afugentar animal selvagem, mas mineirinho tinha outro credo - não podia fazer oração decorada. Então lhe veio à mente o sacrifício de Isaac. Meu Deus, vou ser oferecido para alimentar uma fera? Não, não podia ser! Não podia deixar órfãos três filhos pequenos. Rememorizando o episódio de Abraão e Isaac no monte Javé, desejou que Deus aceitasse um cordeiro e poupasse uma vida humana, como fizera com Isaac. Deus proverá – disse ele em voz alta.

Quando o dia amanheceu criou coragem para tomar o caminho de casa, temia a onça, mas temia muito mais encontrar alguém que houvesse participado do cortejo de Joaquim Pilão.

As costas doíam muito e ao narrar o acontecido ao sogro, mineirinho ouviu pacientemente o consolo: Aqui a gente bate no caixão para afastar os pecados do defunto e deixar o caixão mais leve. Rir numa hora dessas é grande falta de respeito ao morto.Você teve sorte de bico-doce não ter lambido sua barriga ou jaqué lhe decepado um braço.

“Bico-doce, jaqué... tem esses bichos no mato?” – indagou Jurandir. Ora, “rapais” – disse o velho – jaqué é facão e bico-doce é punhal. Vá pra cozinha e peça a Maria pra passar uma água de sal em suas costas senão, vai criar bicheira.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui