Usina de Letras

SINTO-ME ZORRO !...

Era em seus quotidianos um cidadão comum,
Daqueles assaz vulgares, mas muito tímido,
Quase ridículo, incapaz de matar uma mosca,
De despertar uma paixão ou seduzir uma mulher,
Espécie de pau-mandado sempre disponível...

Todavia, logo que era preciso fazer justiça,
Porque as pessoas mais frágeis e os pobres
Careciam de protecção ou de auxílio económico,
Mascarava-se, envergava capa e chapéu negro,
Montando seu vigoroso alazão à luz da lua...

Seu par de reluzentes pistolas era infalível,
Exímio espadachim, sombra em ápice inopinado
Que aparecia a desenhar o "Z" de sangue
Na testa dos vilões, bandidos e corruptos
Que viviam à exclusiva custa da intimidação...

Empolgados, meus olhos saíam-me das órbitas,
Sentado entre a entusiasmada e ávida plateia,
Seguindo as façanhas, as prodigiosas aventuras
Daquele que foi o meu dilecto herói de juventude
E quiçá por isso, de um outro modo, sinto-me Zorro !...

António Torre da Guia

Som = Linda Ronstadt em "El toro relajo"

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