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cronicas-->Santa Maçanilha -- 12/02/2009 - 19:36 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Santa Maçanilha

Aroldo Arão de Medeiros

Tenho viajado muito nesta minha vidinha de ambulante. Difícil parar numa cidade por mais de dez, quinze dias. Já percorri o Brasil, de norte a sul e de leste a oeste, creio que umas quatro ou cinco vezes. Só não posso dizer que conheço quase todos os municípios brasileiros porque conhecer, para mim, significa um pouco mais do que percorrer as veredas empoeiradas oferecendo pechinchas de porta em porta. Para conhecer, de verdade, teria que ficar morando uns meses em cada localidade. No meu trabalho, é impossível.
Mas o caso é que depois de tanto perambular por esse país afora, estacionei em Santa Maçanilha. Cidadezinha pequena, pacata. Daquelas que onde o silêncio é tão permanente que a gente é capaz de ouvir o ruído do pór-do-sol. Eu diria que a cidade não chega a 10 mil habitantes, se tanto. Na verdade, nem poderia dizer habitantes, porque todos que por aqui se hospedam, contam os dias que faltam de vida.
Pois em Santa Maçanilha tiveram a ousadia de construir um shopping center. Coisa de quem quer imitar a cidade grande. Ou com o propósito de colocar o nome do prefeito no pedestal da fama.
Lá, no dito shopping, cujo nome, em inglês, a população da cidade é até capaz de pronunciar, mas jamais de escrever, existem 20 lojas. Todavia apenas 3 abertas ao público. Os outros espaços estão disponíveis para aluguel ou venda, mas sem interessados. Caminhei pelos corredores desertos do tal shopping. As únicas pessoas que encontrei foram as moças que bocejavam atrás dos balcões das três lojinhas. Só posso concluir que, se somarmos as vendas das três, por mês devem faturar um pouco mais que nada.
O mais interessante em Santa Maçanilha não está muito distante do shopping. É quase em frente, do outro lado da ruela principal, perto da farmácia, da imponente igreja, da pracinha abandonada e das Casas Pernambucanas, que reina absoluta no comércio local. Pois o mais interessante é o clube, que todo sábado promove um evento para o público jovem. Num daqueles sábados em que eu estava estacionado por lá, pude ver os cartazes da mais inusitada festa que conheci até hoje: "A Noite do Mijão".
O cartaz explicava: "Você paga apenas o ingresso e bebe de graça até o primeiro mijão ir ao banheiro". Depois de me chacoalhar de rir lendo o anúncio, decidi que iria àquele baile. Não bebi nem água naquele sábado à tarde, para não ter que passar pelo vexame de ser o primeiro a ir ao banheiro. O cartaz indicava que a festa começaria às dez da noite. Como estou acostumado que as pessoas só chegam uma hora mais tarde, demorei para me arrumar depois de um prolongado banho, coloquei camisa passada e caminhei lentamente em direção ao clube, onde cheguei lá pelas onze, sedento por mergulhar na cerveja gratuita.
Para minha desagradável surpresa, quando entrei no recinto o primeiro mijão já havia ido ao banheiro. E eu fiquei sem sentir o sabor de uma cerveja grátis.
Guardo um certo rancor daqueles beberrões desenfreados cujas bexigas não suportaram sequer 60 minutinhos. Fico tangido a contar outras coisas de Santa Maçanilha, mas como são imorais, ou engordam, mantenho o bico calado. Contudo, cada vez que bebo cerveja em excesso rezo a Santa Maçanilha, rogando por um milagre, na esperança de que eu encontre outra parada onde promovam uma festa daquelas e eu seja o primeiro. Não o primeiro no sanitário, mas na bilheteria do clube.



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