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cronicas-->O livro caixa -- 13/02/2009 - 09:37 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fernando Zocca



Van Grogue, naquela manhã de segunda-feira, encontrou-se defronte sua casa com Mariel Pentelini Ardeu Demorais que se mostrando agitado foi logo dizendo:
- Não sei por que não consigo parar de falar. Só falo besteiras e me disseram que estou ficando louco.
Grogue que fechava o portão da sua casa olhou para trás e viu que o lelé deixara o próprio portão totalmente aberto. Então Grogue ironizou:
- Tenho notado que você larga sempre sua grade entreaberta. Será esquecimento ou simpatia?
- Nem eu sei. Só sei que me disseram para manter assim que é pra dar sorte. - respondeu o amalucado. - Lá em casa está todo mundo nervoso. Meu pai não tem mais serviço na serralheria; minha mãe, cada vez mais gorda, não consegue fazer cocó, e meu irmão débil mental, está devendo para traficantes que já estão cobrando.
Então Van Grogue compadecendo-se do miserável e achando que conversando mais um pouco lhe minimizaria o sofrimento perguntou:
- E seu pai Mariel? Ele é gente boa?
- Meu pai é bêbado, está doente, com enfisema pulmonar. Mas é gente boa. Ele enrustiu um sócio na serralheria, mas entraram num acordo. Quase bateram no banguela quando tomava uma cervejinha no boteco.
Bem intencionado Grogue alisou o cavanhaque despontante e falou num tom monótono:
- Sabe Mariel, não adianta ficar falando feito doido. Desse jeito você não resolverá os problemas da sua casa. O mais certo é você procurar um emprego. Vejo que você e sua mulher permanecem o dia inteiro no quintal da casa, conversando. Isso não vai pagar as contas que estão vencendo. E as crianças? Vocês não podem impedir que aprendam a ler e escrever. Isso é um crime. Você vai querer que um dia elas catem papelão nas ruas para sobreviver?
Mariel olhou para Grogue e desconfiou que ele desejava fazer-lhe mal. Então disse:
- Tem muita gente invejosa nesse bairro. Eles querem que a gente cale a boca. Ficam falando pra nós parar de beber. Falam que a gente não deve fumar. E daí? A gente fazemos o que queremos. Ninguém manda em nós.
- Está muito bem. Que seja assim. Mas se você continuar agindo dessa maneira, o nervoso que está na sua casa, nunca vai passar. Tudo é decorrência do que a gente mesmo faz. - falou Grogue, guardando a chave no bolso.
- Eu não quero nem saber. Eu nem durmo a noite. Fico conversando para ver se tenho mais sorte. Mas o azar aumenta cada vez mais. Eu preciso saber as palavras certas. - completou o desocupado Mariel.
- Você não sabe ler não é Mariel? - Grogue desconfiava que por ele falar muito e usar sempre as mesmas palavras, desconhecia o alfabeto e por consequência a Bíblia.
- Lá em casa ninguém sabe disso. A gente não tem tempo para essas coisas. Precisamos trabalhar. Não dá tempo para ficar lendo. - dizendo isso Mariel afastou-se rapidamente.
Ao atravessar a rua Van Grogue foi parado pelo carteiro que, ao invés de deixar o pacote que trazia, na casa daquele destinatário, entregou-lhe em mãos.
Van agradeceu e abrindo logo o embrulho, ficou a imaginar quem teria sido o gaiato que lhe remetera prospectos de vidros de azeitonas, queijos, salames, mortadelas e até de livros caixa.
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