Foi uma provocação. Bastou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, criticar o MST para que o movimento respondesse com sua tática usual: invadir fazendas. Quem deu o caminho foi o líder sem-terra José Rainha, ao citar as polêmicas decisões de Mendes em favor do banqueiro Daniel Dantas. Ao invadir as terras do dono do Opportunity, neste final de semana, o MST não só tenta constranger Mendes como levanta a tese de que ele não é isento o suficiente para julgar a organização.
Para os sem-terra, a verborragia do ministro foi um achado. Com os acampamentos desnutridos e um discurso cheirando a mofo, o MST precisava de combustível. Em Mendes, encontrou um inimigo. O magistrado integrou o governo Fernando Henrique Cardoso e não se inibe em dar palpites, seja qual for o assunto. As estocadas de Mendes, aliás, também atingiram o governo. Num primeiro momento, o Planalto proibiu seus ministros de repercutir os ataques. O governo só reagiu depois que a imprensa denunciou o repasse de dinheiro público à entidades ligadas aos sem-terra.
O MST sempre foi um aliado de Lula, embora com o PT no governo essa amizade seja um tanto dissimulada por críticas de ambos os lados. Mas ano que vem tem eleições. E o MST sabe que, embora o governo Lula não tenha contemplado todas suas expectativas, uma vitória da oposição em 2010 só empurraria o movimento ainda mais para a marginalidade. Não foi à toa que a maioria das invasões realizadas no feriadão de Carnaval ocorreu em São Paulo, governado pelo postulante tucano ao Planalto José Serra.