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cronicas-->O circo do Van Grogue -- 05/03/2009 - 13:24 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Van Grogue não era galinha, mas também ciscava pra dentro". Isso era o que diziam os beiços pequenos, infectos, maledicentes, orbitantes dos botecos infernais. Na verdade aquela turma toda sentia muita inveja do Grogue. Não encontrando nele nada que pudessem apontar como deslizes condenáveis, criticavam-no dessa forma.
Quem mais se assanhava quando mencionavam o seu nome era Mariel Pentelini Demorais que, à semelhança do veadinho diante da onça dentuça, arrepiava os pêlos, retesava os músculos, não vendo outra ação alternativa para aquela primeira que sempre lhe surgia: fugir.
Numa ocasião quando algumas pessoas se reuniam, na praia artificial, feita na margem esquerda do rio Tupinambicas das Linhas, Grogue tomando aquele banho de sol, sentindo na pele o ardor provocado pelos raios dourados, que o amorenavam, abordou-o um sujeito alto, meio gordo, cabelos louros, de olhos azuis que lhe disse:
- Com licença, senhor. Eu o conheço há algum tempo. Tenho ótimas informações sobre sua pessoa. Gostaria de dizer lhe algumas palavras. Posso?
Nosso amigo que pensava em adquirir uma prancha de surf, deitado na areia, transportada por um milhar de caminhões da prefeitura e depositada ali na margem barrenta do rio, estranhou aquela aproximação. Sem demonstrar a contrariedade Grogue respondeu num tom de desconfiança:
- Em que posso lhe ser útil?
- Sabe seu Grogue, venho da parte do prefeito, doutor Jarbas que, depois de longas reuniões com o secretariado, entendeu precisar agitar culturalmente a cidade. Não sei se o senhor me entende. Veja bem: aqui a população não tem tanta alternativa ou escolha para se divertir. O senhor sabe como é, com essa crise o pessoal todo permanece recolhido nas suas casas, e a secretaria da saúde está convicta de que isso não é muito favorável ao bem estar. Portanto precisamos fazer algo que reúna as pessoas, faça com que elas conversem mais entre si e se divirtam. É claro que isso implica em consumo também. A prefeitura tem pensado criar, em paralelo com o nosso projeto principal, um departamento especial na secretaria de abastecimento, visando a produção e distribuição de paçocas, pipocas, sorvetes e cachorros-quentes a preços bem populares.
Grogue assustado ainda com a chegada inesperada, não conseguia imaginar qual seria o objetivo daquela pessoa. Mas mesmo assim, manteve-se disposto a continuar ouvindo. Então o homem prosseguiu:
- O senhor, como leitor incansável dos jornais e ouvinte também dos noticiosos das nossas rádios, sabe que o time da cidade, o glorioso Esporte Clube 7,5 de Novembro, não tem obtido muito sucesso nos campeonatos que participa. Como é notório, as pessoas não têm mesmo motivo para irem ao campo. Então o que acontece é isso o que nós estamos cansados de ver: uma cidade parada, com as pessoas fechadas dentro das suas casas. Isso é mal, muito mal.
Grogue, cofiando a barbicha rala, que lhe sombreava o rosto manifestou-se com receio:
- Hum, hum...
O intrometido então prosseguiu:
- Em sendo o senhor um homem inteligente, deve imaginar que numa cidade parada, não há fabricação de mercadorias, não há comércio, não há consumo e por isso, a tendência geral é a permanência da estagnação, do perecimento.
Grogue arregalava os olhos e fixava sua atenção no homem. Ele então seguia com a lengalenga:
- A proposta do nosso prefeito, o projeto principal, é a criação de um circo... - quando o proponente falava, foi interrompido por um garotinho que, carregando uma cesta coberta por um guardanapo branco, oferecia amendoins torrados. Olhando de soslaio para a criança, o grandalhão murmurou entre dentes:
- Não quero nada. Recolha-se à sua insignificància. - dizendo isso o homem continuou:
- A proposta do nosso prefeito é a criação de um circo municipal que teria também os subsídios da prefeitura. Isto é, os artistas todos receberiam seus cachês do poder público e, os ingressos seriam vendidos a preços simbólicos. Grogue então interrompeu:
- Circo? Mas o que é que eu tenho a ver com isso? Se fosse um boteco municipal, alinda vá lá. Mas circo? Mano... eu não compreendo.
- Sabe seu Grogue a orientação que tenho é exatamente essa: a de trazer o senhor para o time dos que fazem as coisas acontecerem em Tupinambicas das Linhas. Por isso contamos com o senhor. Posso dizer que Vossa Senhoria se engajaria como nosso gerente de empreendimento?
Antes de responder Grogue olhou para as águas barrentas do rio que transmitiam uma espécie de calma. Um punhado de folhas secas descia junto com outros gravetos, levados pela correnteza, até próximo da margem. Davam a idéia de uma frota, cujas naus frágeis, se aproximavam do porto.
- Mas nesse projeto tem leão, tigre, trapézio, palhaço equilibrista, malabarista, e elefante?
- Tem sim seu Grogue. Isto é, terá tudo isso, se o senhor aceitar a nossa proposta.
Van bastante incomodado diante aquela espécie de pressão que o submetia, levantou-se e, batendo com as mãos nas pernas e braços, para se livrar da areia, pegou a toalha onde estivera deitado, sacudindo-a com força. Saiu então deixando o homem a falar sozinho, logo depois que uma ambulància com a sirene ligada, passou na Avenida, causando desconforto.

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