Quando será que começamos a morrer? Ao nascer? Ao conhecer? Ou será que apenas morremos, sem nos darmos conta que estamos cumprindo uma sina tão estúpida, quanto indecifrável?
Indagações que se somam às muitas que não consigo responder, mas que me fazem sentir que algo em mim fenece, queda-se silente, caminha para o fim.
Quisera deter a marcha do tempo, viver mais e melhor, estar vivo e estar em alguém, com alguém.
Quisera também explicar essa dor calada, profunda, de estar só, mas principalmente de sentir-se só, sem pertencer, mudo e imperceptível.
Por que aqueles jovens que riem tanto não incluem em seu grupo de amigos? Por que consigo perceber as horas escoando, lentas, indiferentes, enquanto eu me alimento de sonhos para não deixar minha alma secar, sem amigos, sem amores, sem Deus?
Quisera uma companhia no chope, uma presença em minha cama, uma vida em minha vida.
Quisera que meus olhos não se perdessem mais no horizonte, ao entardecer, buscando um ponto pequeno, quase invisível, que também me olha, completamente singular, uno, sem par, sem amar.
Por favor, alguém ou alguma coisa, faça com que eu deixe rastros na poeira do meu passado, que meu futuro não se tinja de cinza, de chuva, de melancolia. Permita que eu esteja no mundo como quem compartilha, não apenas observa. Dê-me a chance de ser o namorado, o pai, o amigo. Não me deixe mais longe de ser humano, social e gregário.
É um lamento, eu sei. Mas são apenas palavras. Meras e inúteis palavras, que não sentem e não fazem sentir solidão.
E veja que engraçado! Já é noite! Sinto a presença das trevas que vão me ocultar dos olhos dos outros, de suas lembranças e corações. Talvez eu deva ir dormir. Longamente.
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