Usina de Letras
Usina de Letras
69 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62193 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50599)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->A HISTÓRIA DA PEQUENA MALTRAPILHA E SEU PALHAÇO DE PANO. -- 15/03/2009 - 10:30 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:131420484257464100
A HISTÓRIA DA PEQUENA MALTRAPILHA E SEU PALHAÇO DE PANO.
Ana Zélia

Parecia que a vida brincava com seu destino. Por força queria ser alguém, filha de ricos, viver num sobrado, vestir lindas roupas, todas elas com bastante babados, estilo Branca de Neve. Ficava horas a fio junto à tia que costurava a espera que sobrasse algum retalho de fazenda, para ter um vestido novo. Não importava as diferenças. Tinha tudo no vestido, variedades de cores, tal qual o céu repleto de estrelas. Babados e babados, todos eles complemento doas retalhos sobrados.

Para ela era a pequena Branca de Neve, linda, linda. Os pobres são assim, se contentam com o pouco, desde que lhe caia bem.
A ela só restava além do sonho de ser grande, bonita, a doutora da família, mas, a panela de açaí que era obrigada a carregar na cabeça e aos gritos: _Olha o açaí, quem vai querer? Era a rotina diária após chegar da escola lhe ditava a realidade.

Não ia de gosto, trocava a farda pelo vestido remendado que a mãe lhe dava para aquela ocasião, remendadinha. A exigência era o vestido limpinho, passado a ferro.
Tomava banho, um pouco de talco que a avó preparava com batata de araruta. Após secagem, era pilado num pedaço de pano branco. Aquele pó conservava a pele limpa.

Saia para a missão, sempre às onze da manhã para ajudar os pais.
O pai vendia peixe e a mãe tinha uma banca de mingau, guloseimas.
Quando não era época do açaí, vendia pipoca, dentro de um saco, pelo bairro.
Naquele tempo as casas eram dispersas, bairros se formando, ela tinha medo de tudo, mas por companhia tinha sempre um irmão maior ou a irmã menor.

Certo dia a fome associada à preguiça fez com ela comesse toda a pipoca. Tome peia para aprender a ser honesta. Naquele dia a pancadaria foi tanta que a asma atacou forte, nem a mamona, vomitório de péssimo paladar a fez melhorar. Nem o mastruço, o amor-crescido, o chá de baratas torradas, chá de caramujos que ela mesma apanhava num navio antigo que ainda fica na beira mar dos Educandos. Nada servia para aquela doença chata. O chiado, dia e noite não a deixava em paz, mas como dizia sempre: __ Vaso ruim, não quebra!

Seu consolo era o velho palhaço de pano que alguma bondosa velhinha lhe dera de presente. Como ele sofria com ela. Sua vingança era no pobre coitado.

Sem força alguma de defesa, ele se deixava levar para cima e para baixo, ficava todo sujo o coitado, mas era o seu amigo fiel. Seu confidente, A ouvia sempre dizer: _ Odeio, odeio todos eles. Tudo que acontece errado sou eu que faço. Odeio, odeio...
Ainda vou ser grande, serei muito importante, vocês vão ver. Até tu palhacinho haverás de ver-me respeitada, um nome sagrado nesta terra. Odeio esta cidade, mas é aqui que vou brilhar.
Ele nada sabia daquilo. O que aquelas palavras queriam dizer, mas ela se alimentava delas.

Cabelinho sempre amarrado estilo Maria Chiquinha, as fitas vermelhas lhe davam um colorido maravilhoso, ela deixava de ser a menina pálida para se tornar alegre pela força do vermelho. Acreditava piamente no feitiço do vermelho, na força poderosa daquela cor que achava linda e insubstituível. Além do vermelho, o amarelo, cor do astro-rei lhe dava as energias para poder enfrentar as feras como ela chamava seus pais e irmãos.

Hoje, adulta, ainda tem na alma muito daquela criança sofrida, esgulepada, rebelde, batalhadora, de fibra.
Manaus, 24.10.1983 (20.35h)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Nota da autora. Na história da menina maltrapilha e seu palhacinho de pano talvez tenha contado parte da minha história verídica, sofrida, mas da qual me orgulho, tenho boa voz, como coralista conheço quase todo o Brasil com ela, dignidade é a palavra chave. Nada me veio de graça, a base maior foram os livros, estudos, quem não tem padrinho, devem estudar dobrado. Porque quem aprende enfrenta as tempestades. Vence.
Manaus, 15 de março de 2009. Ana Zélia


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui