Usina de Letras
Usina de Letras
84 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13266)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10369)

Erótico (13570)

Frases (50639)

Humor (20032)

Infantil (5440)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140811)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6198)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->As pedras que choram sozinhas -- 22/03/2009 - 21:47 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Deitada sob o mormaço da praia, naquele principio de outono Mónica dormiu. Havia passado duas horas desde o momento em que chegara. O cansaço fez com que ela esquecesse o receio das possíveis abordagens inoportunas tendo dormido sem temor.
Pois foi quando então que, como num passe de mágica, póde ver o Ford 29 com a carroceria de madeira rodando pela estrada poeirenta num prado desabitado.
O motorista alvo, com os cabelos já grisalhos, se preocupava ante a possibilidade de ter o radiador fervido e se ver impossibilitado de prosseguir no caminho. Ele percebeu, porém que, até aquele momento, a maquina não funcionava tão mal.
Joseph podia ver alguns pássaros que voavam pela campina à direita e, ao fixar seus olhos azuis num deles, póde acompanhar o trajeto que levou a aterrizagem para perto dum animal que pastava.
O homem, que já chegara aos cinquenta anos, notou que o quadrúpede alimentava-se só, abandonado num campo aberto. A cerca que beirava a estrada, feita com arame farpado, não impedia ninguém de invadir a propriedade.
Sentindo um ímpeto que não póde conter Joseph parou o fordinho, desligou o motor e desceu. Olhou a estrada, primeiro de um lado, depois do outro e, notando-se sozinho, passou entre os arames da cerca.
Joseph estava dentro da propriedade alheia e, lá adiante um animal malhado pastava desprotegido. Era muito perigoso. O sol não estava tão forte, mas não impedia o viajante de sentir, na pele, os efeitos da radiação.
O homem aproximou-se lentamente do bicho e, ao dar mais dois passos adiante, parou. Olhou novamente ao redor; certificado de que estava mesmo só tomou a decisão. Sentindo o coração aos pulos, arfante, ele voltou apressado ao veículo.
Com um safanão arrancou o encosto do banco inteiriço e, de um escaninho escuro, retirou a espingarda enegrecida.
O sangue entumecia-lhe o rosto. Seus olhos injetados latejavam e, nas mãos ele sentia uma força terrível. A saliva brotando-lhe grossa na boca, fez com que ele a cuspisse para longe.
Examinando com cuidado a arma, viu que estava municiada. O invasor limpou o suor do rosto com a manga direita da camisa e se dirigiu para a cerca. Transpassou-a iniciando a caminhada em direção ao animal que, até aquele momento, permanecia imóvel.
O bicho ao perceber a aproximação do estranho parou de ruminar, fixando no intruso o olhar mortiço. Balançou lentamente a cabeça e iniciou um processo vagaroso de locomoção. O homem sentiu que poderia perder a caça e então caminhou mais rápido. Diante do animal que parara assustado, o homem acionou o ferrolho da arma preparando-a para o tiro.
Frente a frente caçador e caça olharam-se; seguiram-se segundos tensos. O homem suando, tendo dificuldade para conter a agitação, posicionou-se, inspirou, reteve a respiração e fixou a alça de mira na testa, bem entre os olhos da vaca que reiniciara a ruminação.
Um estampido ecoou pelos prados. O animal caiu primeiro com os joelhos no chão, depois tocou o focinho e a cabeça no solo, que logo foi seguida pelo corpo todo que desabou. Pássaros, assustados com o ribombar, voaram emudecidos.
O caçador aproximou-se então do bicho que agonizava e, deixando de lado a espingarda, puxou da cinta, uma faca afiadíssima com a qual abriu as veias do pescoço do animal. Um jato fortíssimo de sangue escuro impregnou o solo adjacente.
Limpando a faca na barra da calça o homem subiu sobre o corpo do animal pulando sobre ele. A ação fazia com que mais e mais sangue saísse pelas veias abertas, alagando a terra.
Com muita calma o ladrão passou a esquartejar a presa. Abriu primeiro o ventre, de onde tirou todas as vísceras, jogado-as distante. Logo após seccionou a cabeça. Com um esforço hercúleo, o homem arrastou a carcaça para bem perto da caminhonete.
Depois de algum tempo conseguiu colocar o animal morto sobre a carroceria, cobrindo-a com uma lona.
O homem voltou então para o local onde a vaca havia caído e pegou a arma que ficara ali. Limpou-a com carinho, guardando-a atrás do encosto. Guardou também a faca depois de limpá-la.
Quando iniciou o movimento de volta pra casa, a penumbra já baixava sobre a região.
A fumaça de maconha queimada impregnou os arredores, fazendo com que Mónica saísse do sono letárgico. Ao abrir os olhos a moça observou que as ondas agitadas, ao tocarem as pedras, davam a impressão de que estas choravam sozinhas. A jovem percebeu também que um grupo de viciados parara perto dela. O vozerio daqueles bêbados e drogados inspirou-a a levantar-se saindo rapidamente do lugar. Definitivamente, tornava-se bem difícil sonhar na praia.

(Fernando Zocca)
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui