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cronicas-->As chamadas da tia Ambrosina -- 27/03/2009 - 09:56 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As chamadas da tia Ambrosina


Tendes Trame deixou a reunião com Jarbas o caquético, no início da tarde de segunda-feira. O prefeito ficara ainda com os secretários no gabinete, mas o deputado, depois das explicações sobre os motivos que levaram o Tribunal de Contas do Estado, a rejeitarem os números da prefeitura, resolveu ir pra casa.
Durante o percurso que fazia, entre o local de onde saíra, para sua morada, um apartamento na região central da cidade, Tendes, no automóvel oficial, de propriedade da Assembléia Legislativa, mas com placas frias, e dirigida por funcionário da casa, sentia algo que o incomodava.
- Venha... Venha... Venha... - murmurava-lhe uma voz feminina de quem parecia bêbado.
O deputado achou que poderia ser qualquer complicação no labirinto, mas para maior segurança decidiu procurar um médico no dia seguinte.
João Ocevai que trabalhava no Ministério das Comunicações, mas que fora transferido "por empréstimo" para a Assembléia, não se importava com as longas horas de espera, quando as pessoas a quem servia, deviam participar de compromissos importantes.
Ocevai estava já no tempo de se aposentar e durante todo o período em que serviu como motorista nunca se preocupou com férias ou afastamentos para descanso. A falta de atividades físicas, bem como o excesso de dias sem tomar sol, dava-lhe um aspecto marmóreo esquisito da pele. Mesmo assim ele continuava tranquilo.
O soar repentino do celular do deputado assustou os homens que seguiam serenos naquele carro preto.
- Aló. Sim, é o deputado Tendes Trame. Quem fala? Quem? Tia Ambrosina? Ah sim! Como vai a senhora? Conversou com o Jarbas? Ah, sei... Como? Licitação, sim a construtora ganhou outra licitação que fizemos. A empresa é muito competente. Ela ganha todas. É incrível. Não, nada disso! Quem foi que disse, querida Ambrosina, que depois de contratada ela apresenta retificação de preços superfaturando os orçamentos. Imagine! Que loucura! Como assim? Sim é claro que essa construtora doa verbas para nosso partido, mas não significa, minha querida, veja bem, que esse dinheiro seja o mesmo do superfaturamento. Que... Tia Ambrosina, de que lado a senhora está, afinal? - indignado Tendes Trame desligou o telefone. O carro havia parado em um semáforo da Rua Boa Vida esquina com a do Descanso.
- É inacreditável. Como as idéias que as pessoas fazem de nós politios são tão deturpadas. Isso é culpa da imprensa. Esses jornalistas aprontam cada uma. Falam uma coisa e fazem outra ao contrário. É por isso que o Brasil não vai pra frente.
- Doutor, o senhor quer passar na padaria? Não vai levar um pãozinho fresco para o almoço?
- Não, sem chance para o pão agora. Precisamos conversar com o Jarbas, chamar o pessoal da assessoria de imprensa da prefeitura para dar uma resposta a essas idéias de jerico que pululam por ai.
- O que é que estão dizendo por ai, doutor? - indaga Ocevai, curioso.
- Essas idéias são tão absurdas que não é bom nem repeti-las. Mas para que não pensem que a gente se nega a dizer por serem verdadeiras as afirmações, eu mesmo explico: a oposição está dizendo que nós do governo favorecemos algumas empreiteiras nas licitações. Elas então superfaturando os preços, nos repassariam a nós do partido as verbas com as quais pagamos nossas despesas de campanha. Ai eu pergunto. Pode existir absurdo mais tosco que esse?
João Ocevai manobrava o automóvel para entrar na garagem do edifício. Enquanto o portão se abria lentamente o motorista póde acreditar piamente no que pensava a população da cidade.
O deputado Tendes Trame, colocando as mãos nos ouvidos ouvia aquela voz que chamava:
-Venha... Venha... Venha... - seria a tia Ambrosina?



(Fernando Zocca)





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