Um homem de mais ou menos 30 anos está sentado ao lado da guarita sem maiores recursos. Tem um banheiro ao lado, mas não dispõe de linha telefónica no interior. A condição do local foi relativamente mudada no final de 2008. A companhia telefónica instalou um orelhão, que agora atende aos infelizes que esperam escassos transportes coletivos que passam pela BR-364.
Para atender aos alunos e funcionários da Faculdade Faro uma linha de ónibus que serve aos moradores do bairro Ulisses Guimarães passa de 40 em 40 minutos, alternada com o transporte intermunicipal que leva a Candeias do Jamari. Aos sábados o intervalo é maior, causando atrasos significativos aos docentes e discentes.
Uma passarela que tombou causando a morte de um operário na BR-364 é testemunha das dificuldades dos acadêmicos e funcionários da faculdade nos dias de sol escaldante ou de pancadas de chuva que atingem Porto Velho durante os primeiros meses do ano.
A passarela será reconstruída após a queda do vão central. Os acadêmicos e funcionários circulam por ali todos os dias, assim como os professores, mas para saber o nome do porteiro tem que perguntar. Ele não tem qualquer tipo de identificação funcional.
Seus antecessores também não tinham. Os professores e alunos passam rapidamente em seus veículos sem qualquer cumprimento ao porteiro. Todos têm pressa de chegar ou de sair da faculdade. Algumas vezes é possível olhar para o lado e fazer um leve aceno, mas nos horários que antecedem as aulas o fluxo de veículos não permite muita gentileza. Alguns incidentes já foram registrados, pois todos têm pressa.
O porteiro reage indiferente à indiferença dos outros. Pelos menos é o que parece. Algumas jovens bonitas passam e seu olhar é recompensado. Mas tem que manter respeito, de forma que dissimula um pouco.
Sua tarefa não é muito complicada. Figura decorativa da portaria, que tem um espaço grande, cerca de 10 metros de largura. Não pede identificação de ninguém. Existem seguranças para vigiar o estacionamento da faculdade nos três turnos. Resta ao porteiro sem uniforme ficar sentado numa cadeira, buscando a sombra de uma palmeira imperial durante o período diurno.
Sua esperança é conseguir uma função melhor dentro da empresa, já que seus antecessores foram removidos após algum tempo para outras tarefas. Conforme o grau de escolaridade pode se tornar monitor ou trabalhar num serviço burocrático da instituição.
Em 2005 um dos porteiros foi reconhecido pelos alunos do curso de Publicidade e Propaganda. Rosimeri Ripke, integrante da comissão de formatura, ao buscar um nome para homenagear os funcionários da instituição citou o homem simpático com 50 anos presumíveis que todos os dias presenteava um sorriso aos transeuntes e motoristas. Assim Elinio Marques de Barros foi o funcionário escolhido para ter seu nome gravado na placa de latão referente à formatura dos primeiros publicitários de Rondónia. Elíneo também atua como garçom nas horas vagas, desfilando com sua bicicleta pela BR-364 todos os dias, mantendo o sorriso constante.
Seu sorriso e prontidão fizeram diferença. Hoje trabalha na secretaria da instituição de ensino. A mensagem captada por Rosimeri e seus colegas o removeu da portaria do anonimato.