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cronicas-->O HOMEM DE GELO -- 15/03/2001 - 22:22 (Martha Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O HOMEM DE GELO


Um homem contempla silencioso todo o branco de que o mundo é capaz de criar, parado, absurdamente imóvel, olhar perdido no horizonte ele vê surgir o primeiro sinal de que chegou a hora afinal.
É a hora de sair do inverno, o inverno gelado e solitário nos confins da terra, ou para alguns no início de tudo que nos cerca. Talvez a última fronteira? Questão de ótica pensa ele, e sorri, distraído porque já lhe é característico sê-lo. Abstrair-se tornou-se hábito, mania, válvula de escape talvez, nestes meses todos.
A seus pés observando tudo como se entendesse, está seu parceiro de todas as noites e dias gelados, um pinguim ferido que ele salvou da morte certa tão machucado estava.
Parece que realmente chegou a hora pensa o homem ainda imóvel a contemplar seu amigo, dá um passo e começa a caminhar, ajeita o casaco bem fechado próprio para aquele clima.
O inverno foi terrível na Antártida, ele nem lembra direito de quantos dias ficou trancado no laboratório trabalhando ou simplesmente lendo e estudando, dias em que nem os veículos para neve conseguiam sair, e ele confinado só pensava no trabalho. Sim se possível levaria soluções na volta, e não mais problemas.
Imediato mesmo era saber o que fazer com Chilly, o pinguim, um filhote no primeiro dia e hoje um quase adulto, sim, ele era um problema, ele o seguia por toda a parte, mesmo quando ele não lhe dava mais comida, ainda assim ele saía para alimentar-se e retornava ao seu encontro.
Agora o navio já aparecia melhor, se aproximava devagar, havia muito gelo ainda, e lentamente como a lhe dar tempo, para entender que ele precisa decidir. Mas já não há tempo, ele tem que decidir, tem que deixar Chilly, não pode levá-lo, ele precisa ficar no seu habitat, tirá-lo dali é maldade, ele sabe disso, é como alguns homens, se os tirarmos de seus lugares eles também fenecem, definham e acabam morrendo.
Pronto, decisão tomada ele vai para seu alojamento e verifica tudo, está partindo, voltará no próximo inverno seguindo o trabalho assumido, mas hoje ele tem certeza que veio buscar aqui tão longe e de forma inconsciente, a sua verdade.
Hoje ele é um novo homem, um novo homem do gêlo, um tanto aberto, um pouco mais flexível, bem mais suscetível, e muito mais garimpeiro talvez? Quem sabe até no amor?
Esta transformação tem um nome, é um pequeno ser, um pinguim que na luta por vencer o inverno e suas feridas, ensinou ao homem que é necessário lutar contra o inverno da alma.
É o inverno sempre mais rigoroso que qualquer um com chuvas, nevascas, frios, granizos, e toda a sorte de coisas que acompanham um inverno. O inverno da alma é rigoroso com quem o abriga, muito mais perigoso, pois ele ataca e destrói a essência do ser, e muitas vezes nem os veículos de neve conseguem desobstruí-lo, evitar que a neve impeça a busca da verdade.
A certeza da decisão acertada se faz clara em sua mente, a decisão de vir para o mundo branco, a decisão de libertar aquele pinguim, a certeza de renascer, ressurgir como um novo homem, talvez não mais de gêlo, mas um que certamente aprendeu a superar todos os invernos, deixa seu coração leve, seu pensamento alerta.
Agora sim, pode retornar e enfrentar tudo, nada mais se abaterá sobre ele, o pior já passou, ele saiu de um inverno tenebroso para a luz de um sol tropical e tórrido: a própria vida.

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