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cronicas-->Botas de Molho -- 23/04/2009 - 17:43 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uso tênis muito pouco. Acho o calçado muito confortável, até bonitinho. São caros também. É possível comprar um par de um importado, equipado com doze amortecedores, cinco airbags, antena parabólica e três suítes pela bagatela de R$ 999,00. É o mesmo preço deste notebook no qual escrevo, com um agravante: apesar de ter tentado, não consegui escrever uma palavra sequer no Reebok que uso para correr. Apesar de achar um absurdo que um sapato custe essa pequena fortuna, não é a minha podossovinice que me anima pouco a usar tênis. O motivo são as botas.
Gosto de botas. Lembro que, aos cinco anos, já desfilava de botas pelo quintal em brincadeiras de mocinho e bandido. De botas, sem meia e de calção. Hoje minha noção de moda é um pouco menos freak, mas a bota ainda é o item mais repetido em meu armário, ao lado da calça jeans (que era calça "Disney" até os meus oito anos) e da camiseta branca. Uniforme multiuso, bom para dar aula, bom para visitar um cliente menos fresco, bom para ir ao cinema. Detalhe: jeans e camiseta com tênis podem representar desleixo; com bota compõem um estilo.
O assunto aqui, confesso, não são as botas. Não exatamente. É a chuva. Explico. Vim para Ribeirão Preto na década de 1980. A cidade tinha características muito próprias que impressionavam um recém-chegado: pão francês sendo chamado de filão, o cheiro azedo de garapão no ar dia e noite e, claro, a chuva, que era evento raro por aqui. Prova disso é a falta de preparo para o aguaceiro das casas construídas aqui à época: grandes áreas descobertas, pisos que escorregam quando molhados, poucas calhas e rufos, nenhuma impermeabilização. Chovia tão pouco que essas falhas de arquitetos e engenheiros nem eram sentidas. Sendo arejadas, eram casas perfeitas.
Acontece que hoje Ribs vive sob chuva. O céu desaba todo dia, desde, sei lá eu, outubro de 2008. Essa não é cara da cidade. Antigamente as águas davam o ar da graça perto do ano novo, mais um pouco em janeiro e vinham as de março fechando o verão. Era um transtorno piorado com as enchentes históricas. Só que era tudo mais concentrado. Chuva, chuva, chuva por uns dias, um mês talvez, depois vinha a seca eterna, ótima para churrascos, chopadas, futebol, clube, cadeira na calçada. Coisas que são a cara do ribeirãopretano.
Talvez não fosse assim. Pode ser a uma peça de minha memória tão mofada quanto as paredes da maioria das casas por aqui. De qualquer forma, é nessas memórias que eu tenho que me fiar. São as únicas que tenho. Com base nelas, Ribeirão é uma terra de terra vermelha e molhada, mas isso é novo. O que, afinal, tem a ver a chuça com as minhas botas? É que eu não consigo mais usá-las. Boto a bota e toca a chover. Tenho uns três pares de botas de molho, esperando o sol. Calças jeans: quatro paradas na máquina de lavar. Para ajudar, o DAERP anda pisando na bola. Todo dia falta água por aqui. Aí, é assim: a água cai do céu, e não adianta lavar roupa, pois elas não vão secar ; quando para de chover, não dá para lavar roupa também, pois falta água na torneira. Um paradoxo.
Quero achar os culpados. Primeiro penso que o roqueiro nascido aqui, Kiko Zambianchi, deve estar por trás disso tudo. Quem mandou ele ficar repetindo que "só chove, chove, chove, chove"? Depois penso que o erro, e não deve ser o primeiro erro, é da prefeita que ainda não fez nada para que não chova tanto em Ribeirão Preto. Dárcy Vera já está no Palácio há quarenta e tantos dias, e ainda não conseguiu baixar um decreto proibindo as tempestades de caírem por aqui, tal qual fez o ex-prefeito de Aparecida do Norte. Puxa, Vossa Excelência, que mancada! A senhora não sabe que depois do temporal vêm as enchentes? Agora elas são culpa da senhora, como já foram do Gasparini, do Maggioni, do Palocci, do Jábali e tantos outros. Se a enchente é culpa da senhora, as chuvas devem ser também. Use sua força, sua coragem, sua capacidade feminino-administrativa: proíba as chuvas antes do Carnaval! Este é um apelo em favor de minhas botas. Não quero trocá-las por galochas. Aproveite também para resolver o problema da falta d´água em vários bairros: da Vila Tibério à Ribeirànea. Este começo de administração, prefeita, está uma água! Se a senhora as tivesse, seria uma boa hora para colocar as barbas de molho...
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