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Cronicas-->A Madalena da sua vida -- 23/04/2009 - 17:46 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Musas são tão comuns na literatura quanto escritores que delas dependem. Antanho, elas eram entidades de outra esfera, deusas da inspiração. Aos poucos, foram encarnando em corpos de mulheres sempre belas, sempre únicas e, embora humanas, mais divinas ainda. Entre todas, talvez a mais famosa seja Beatriz, capaz de dar a um italiano coragem para enfrentar todos os círculos subterràneos do inferno e os mais diabólicos caprichos da composição de 100 cantos e 14.233 versos! Se, na Divina Comédia, a Bela Bea era símbolo de fé, pureza e religiosidade, na vida vivida real, a moça era a paixão platónica de Dante, amor que começou quando o escritor era um infante de nove aninhos. Ela se casou com outro, é vero, mas entrou para a história como personagem dantesco, no bom sentido. Será que merecia?
Musas podem não ser obrigatórias para o processo criativo, mas quando elas dão o ar da graça, são a razão de obras inesquecíveis. Na música, então, as provas disso são mais que famosas: "vem cá Luiza, me dá tua mão", "eternamente, Iolanda", "para mim, Diana", "Carolina, nos seus olhos lindos, guarda tanta dor". São muitas as mulheres cantadas pela MPB. Até uma Beatriz (que era bailarina e se chamava Agnes...) mereceu uma poesia de Chico Buarque de Holanda: "olha...será que ela moça, será que ela é triste, será que o contrário?". Mas a Beatriz da MPB é a Madalena.
Vou fazer um rápido levantamento. A Madalena do Ivan Lins: "ó Madalena, o meu peito percebeu que o mar é uma gota comparado ao pranto meu"; a Madalena do Martinho da Vila: "Madalena, Madalena, você é meu bem querer"; a Madalena do Fausto Nilo, cantada pelo Fagner, que já era a Magdalena do Bob Dylan, na original Romance in Durango: "vem, vamos voando, minha Madalena. O que passou, passou, não tem mais jeito"; a Madalena do Gil: "fui passear na roça, encontrei Madalena, sentada numa pedra, comendo farinha seca". Ainda podemos chamar a cigana Sandra Rosa, também Madalena. Há outras por aí que me escapam. Quem é essa Madalena musical?
A história: Madalena nasceu no Cosme Velho, Rio Janeiro, lugar vivido intensamente por ela nos frescos anos de rodar pneu e triscar bolinhas de gude. Madá, apelido que nasceu com ela, tinha uma família pequena, apenas ela, a mãe, que sempre achava que haveria recurso para tudo, o pai maluco e o irmão homossexual. O pai morreu quando a menina tinha doze, deixando claro, no leito de morte, que a filha não deveria se casar. O irmão foi-se quando ela tinha treze e ele quinze. A mãe não viu recurso para tanta desgraça e morreu também. Sem família, despejada, perdidona, mas viva, Madá entrou num ónibus e foi parar em Mucuripe. Trabalhou no bar da ZBM e até pensou em virar meretriz, mas terminou a carreira no primeiro programa, pois não conseguiu parar de rir do negócio, ridículo de pequeno, do freguês. Quis aprender a ler e aprendeu. Quis aprender a fazer poesia, fez. Quis namorar um músico, quebrou a cara. O bandido levou até as calcinhas dela. Ainda bem que Madalena já tinha querido aprender a dar tiro de revólver e matou o fidamão, bala sozinha e certeira. Jurando nunca mais amar ninguém, Madalena passou um tempo em Salvador, cantou com uns cabeludos no Centro Antigo, mas não viu futuro naquilo. Voltou para o Rio e, acho eu, casou-se, contrariando a vontade do pai. Dizem que tem quatro filhas, adora ver o mar quebrar nas pedras e assiste a todas as novelas da Globo.
Achou que a Madalena nada tem de musa? Que ela não é lá uma Dulcinéia ou Aldonça sequer? Deixe de ser bobo. Para ser musa não precisa ser da nobreza. Melhor: uma vez musa, toda mulher vira rainha. O que significa que você não deve perder tempo, sua musa - ou seu "muso" - pode estar aí, ao lado, faz tempo. Só está esperando uma homenagem, um soneto, uma quadra, um versinho, uma palavra inspirada seja qual for. Nem precisa rimar. Se rimar é bom também. No meu caso, Christiane é a musa que pede uma rima rica que ainda não baixou no espírito desse poeta pobre e bissexto. Para Chris, é até covardia, mas sou obrigado ao óbvio: Chris, se pudesse ousar ser Dante, você seria a Beatriz. Melhor ainda: se tivesse que rimar de fato, coisa que faço mal, Chris faz rima com ser feliz, muito feliz. Que Madalena, o quê!
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