Dizem que Anabella foi atraída pelo belo par de olhos azuis dele. Para outros, a conversa fácil e descontraída do jovem foi o que primeiro lhe chamou a atenção, seguido de perto pelos seus desconcertantes atributos físicos. Incontestável, porém, era o fascínio que, no início, ele exercia sobre Anabella, ao desempenhar concomitantemente os papéis de amante, pai, irmão e de melhor amigo.
Anabella conheceu Zanata num dia de chuva forte. Abrigados sob o mesmo pé de jambo, conversaram durante o aguaceiro de quase meia hora. Dali mesmo ela o convidou para o seu apartamento, que ficava a duas quadras dali, a fim de que ele pudesse se recompor.
Lá chegando, Anabella entregou-lhe uma toalha limpa e um pente. Fitando-o com um leve sorriso no rosto, ela elogiou a cor de seus olhos para, em seguida, passar a mão em seu rosto ainda molhado. O rapaz também não poupou elogios à bela "rapariga", puxando-a abruptamente pelos quadris para perto de si. Daí a poucos os dois já estavam nus na cama, amando-se como dois animais no cio.
Apesar da pouca idade, Zanata parecia conhecer bem os meandros da alcova. Afora os beijos lascivos, ele costumava deixar as mulheres loucas com sua mão atrevida, sempre a procurar os lugares mais secretos do corpo da parceira. Foi ele, aliás, quem primeiro fez sexo anal com Anabella, num dia em que consumiram uma quantidade tal de álcool, "crack" e cocaína que quase levou a moça a bater as tamancas por causa de uma overdose.
Drogas à parte, não havia porque duvidar das qualidades de amante de Zanata. Viciado também por sexo, costumava transar três, quatro, até cinco vezes ao dia. Quando Anabella não estava disponível, haja vista que passava até vários dias fora de casa cuidando em trazer dinheiro para manter o apartamento e o amante por perto, Zanata ia atrás de quem quer que fosse para saciá-lo: amigas da escola na qual dizia aos pais que estudava, vizinhas, primas, cunhadas, mulheres que conhecia na noite e no tráfico.
Mesmo sabendo que o cara não valia muita coisa, Anabella o queria a todo custo. Tratava-o como rei, comprando-lhe roupas de grife, levando-o para restaurantes caros e até “emprestando-lhe” dinheiro para a aquisição de automóveis. Justificava-se dizendo que a sua profissão não permitia exigir dele fidelidade, e que preferia a má companhia do jovem à solidão desumana na qual vivia há anos.
Entretanto, com o passar do tempo, essa sintonia perfeita entre os dois começou a mudar de figura. Não por culpa do ofício de Anabella, pois, desde o início da relação, seu namorado já sabia que ela era uma prostituta de luxo. Mas pelo vício do rapaz, mantido, durante certo tempo, à custa da gorda mesada que recebia de seu pai, próspero comerciante da capital, e que tratou de suspendê-la logo que teve certeza de que o filho era um drogado incorrigível.
A partir daí a vida de Anabella começou a virar um inferno. Sem dinheiro para comprar “os seus bagulhos”, Zanata passou a controlar a moça, exigindo-lhe o repasse dos cachês para alimentar o seu vício. Caso ele entendesse que a quantia não era o suficiente, Anabella apanhava brutalmente do crápula até ficar estatelada no chão.
Um ano e meio após conhecer Zanata naquela encantadora tarde de chuva, Anabella contabilizava, além de uma dependência química adquirida graças à ele, várias costelas quebradas, equimoses, escoriações, sem falar no prejuízo financeiro advindo com o rufianismo do namorado.
A ida de Aprígio à Florianópolis foi, por assim dizer, a salvação de Anabella. Sem a ajuda do irmão, tirando-lhe do inferno em que se meteu por livre e espontânea vontade - mas do qual não conseguia sair, seja pelas ameaças de Zanata, seja pelo vício que com ele compartilhava – Anabella não teria muito tempo de vida.
A vida, no entanto...bem, a vida reservava-lhe surpresas ainda mais inesperadas do que a descoberta de que Anabella tinha um irmão, de que tinha uma família.
!!Próximo Capítulo: Aprígio frente a frente com Zanata.
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