A VIÚVA E O SACRISTÃO! (crónica)
(A fome nossa de cada dia)
Ana Zélia
A viúva acabara de ler uma matéria que infelizmente virou rotina no país. A fome nossa de cada dia, onde imagens reais de uma pobre mulher que empurrava um carrinho de mão com sobras de verduras, frutas, restos de comida tirados da lixeira.
Esquálida, percorria um trajeto de hora e meia entre a feira da Manaus Moderna no centro, até as proximidades da ponte do Cajual, em Santa Luzia.
Lá aguardavam ansiosos seus três filhos; o marido tentava uma colocação qualquer, assunto difícil a tantos.
A viúva não aceitava o descaso das autoridades com as pessoas; na telinha propagandas de auxílio aos pais que mantivessem seus filhos estudando, ela tinha dois filhos na escola.
Alimentados por sobras de frutas estragadas, mangas, melancia, bananas, mamão... Um punhado de carne moída fora colocada na panela, alimento conseguido com a venda de latinhas de cervejas que a mesma apanhava no caminho. Sem arroz, farinha, nada...
O que mais impressionava era a coragem daquela mulher que não media distància, sofrimentos, vergonha, em busca do alimento a seus filhos.
Até quando aceitaremos ver fatos tão preocupantes, abordados com seriedade por jornalistas brilhantes que fazem de suas profissões a voz sofrida e sufocada de um povo.
Indignada se indagava:
__ Até quando?
__ Até quando?...
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Manaus, 14.04.2003
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