Usina de Letras
Usina de Letras
260 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Fugindo de dinheiro -- 06/05/2009 - 11:13 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fugindo de dinheiro

Aroldo Arão de Medeiros

Parece mentira, mas Dona Aparecida fugiu literalmente do vil papel. Como pode isto ter acontecido?
Arnoldo e Fabian são liberadores de faixa da empresa alemã Kraftwerk. O trabalho dos dois é liberar a faixa de servidão para construção de linhas de transmissão. A empresa germànica pouco se envolve com o que acontece com as obras sob sua responsabilidade no Brasil. Coordena sim, e muito bem, a distribuição de cada tarefa para as empresas terceirizadas, quase sempre brasileiras.
No caso da dupla citada, ela faz parte de uma empresa especializada em liberar faixas. Taranto S.A. manda seus funcionários, antes de começar a obra, conversar com os proprietários por onde passará linha para acertar valores de indenização. Fabian, com mais experiência, é o que se destaca nos bate-papos, e Arnoldo fica como motorista e aprendiz em sua nova função.
O contato inicial foi feito com Valdir Cattània, proprietário de uma área de terras onde passaria a linha. Ficou acertado que seria pago aproximadamente R$ 60.000,00, um valor mais do que justo. O terreno continuaria em nome dos proprietários, com a ressalva que não poderiam plantar árvores altas e construir sob a linha de transmissão.
Um mês depois a dupla retorna para fazer o pagamento. Mostra o cheque ao colono, que muda de semblante rapidamente. Feliz e eufórico pergunta onde tem que assinar para usufruir daquele dinheiro que chegou em boa hora.
Fabian pede ao Valdir a presença de sua senhora para irem ao cartório assinarem a documentação e reconhecerem as assinaturas. Foi como se tivessem lhe dado uma facada. A cara fechou-se, e ele mal humorado falou:
- É preciso mesmo a assinatura da mulher?
- Sim, pois vocês são casados, e é assim que se procede nesses casos - respondeu Fabian.
- Acontece que a gente não está se dando bem. Não somos separados, mas é como se fóssemos. Pouco conversamos, e ela nada combina comigo. Tenho certeza que ela não vai assinar porque desconfia que nada lhe darei, mas vou repassar para ela R$ 10.000,00 - falou quase chorando de raiva e de medo de perder todo o dinheiro.
- Como posso conversar com ela? Ela está em casa? - perguntou Fabian, dessa vez olhando para Arnoldo que incrédulo assistia a tudo.
- O senhor venha amanhã bem cedo que pode ser arranque algumas palavras dessa louca. Difícil mesmo vai ser arrancar a sua assinatura.
- Está bem. Amanhã cedo estarei aqui e vamos ver o que consigo. Passar bem seu Valdir.
No outro dia lá estavam Fabian e seu fiel escudeiro bem cedinho para ver o que poderiam fazer para descascar aquele pepino.
Foram ter com seu Valdir que dessa vez prometeu dar a metade para a esposa. Ele apontou para onde ela estava e continuou ali, esperançoso de ver um bom desenrolar da conversa.
Dona Cida estava revirando esterco para melhor adubar a plantação. Toda suja, não levantava os olhos. Não sabiam se era vergonha da situação ou se ela se preparava para o que ainda viria acontecer. Depois de se apresentarem, bem de longe, já que o local era deplorável e a mulher com a roupa imunda, cheirando mal, era mais triste ainda.
Fabian esclareceu a situação e esperou a reação dela. A infeliz levantou a cabeça e começou a reclamar:
- Esse desgraçado, se eu assinar qualquer papel não me dá dinheiro algum. Só me faz sofrer. Suga o máximo de mim. Faz eu trabalhar na roça como uma escrava. E tem mais meus amigos, mesmo que ele passe com o trator por cima do meu cadáver, não assino papel nenhum para esse desgraçado.
Fabian e Arnoldo saíram dali embasbacados, sem saber o que fazer, e foram contar o ocorrido ao Valdir. Esse, fulo da vida, afirmou que agora sim ele não assinaria nada para ela, mesmo que ela um dia necessitasse muito. Depois de trocarem algumas idéias, Valdir propós que ele rachasse o cheque em dois, de igual valor para ambos. Fabian avisou que conversaria com o Departamento Jurídico para ver o que poderia ser feito. Explicando que precisava de tempo, pois estava retornando para a sede e voltaria dali a quinze dias.
Conforme prometido, Fabian e Arnoldo voltaram com dois cheques nominais. Valdir, dessa vez não ficou de todo contente porque Fabian disse que precisava da assinatura da esposa dele de qualquer maneira.
Onde está a Dona Cida? Levaram a filha deles, Rosicleia, ou melhor, Quica, para procurar a mãe. Foram na primeira vizinha, depois na irmã e na mãe, e nada. A mulher desapareceu. No outro dia foram cedo, mas como o carro tinha a descarga muito barulhenta, espantou-a e a fez correr para o milharal. Não apareceu para o almoço e no final da tarde, já desanimados, entregaram o cheque do Valdir sem a assinatura de Dona Cida. Quica ficou de conversar com a mãe, explicar-lhe direitinho para ela poder receber seus trinta mil reais.
No outro dia, Quica ligou para os bons moços, como o Valdir os chamava, e disse o seguinte:
- Fabian pode vir com o cheque que minha mãe vai receber sem colocar nenhum empecilho.
Dona Aparecida não desapareceu e pela primeira vez não fugiu de dinheiro.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 16Exibido 370 vezesFale com o autor